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Simone é a estréia deste final de semana

Guarulhos, 16 de maio de 2003

arteSimone, de Andrew Niccol, procura penetrar no narcisismo de Hollywood e seu fascínio com a tecnologia, mas, em última análise, dá a impressão de ser apenas mais um filme numa longa linhagem de obras que falam do trabalho que dá fazer cinema.

Quando Nicola Anders (Winona Ryder em participação pequena), insatisfeita com o tamanho de seu trailer, abandona as filmagens de Sunrise, Sunset, novo trabalho de Viktor Taransky (Al Pacino), o diretor também é demitido.

Taransky é um cineasta desesperado. Já criou alguns fracassos e sua ex-mulher (Catherine Kenner) dirige o estúdio com o qual ele tinha contrato. Proibido pelos advogados de utilizar as imagens de Nicola e pelo estúdio de recomeçar o filme com uma atriz nova, ele não vê saída.

Mas um gênio da computação, que está à beira da morte, vem trazer a solução para seu dilema: Simone, ou Simulation One (razão pela qual o título original do filme é S1m0ne), uma estrela virtual tridimensional que possui algo de Audrey Hepburn, de Greta Garbo e de várias outras mulheres célebres.

Com um pouco de “magia digital”, Taransky retira Anders de Sunrise, Sunset e insere Simone em seu lugar – e descobre que criou um tremendo sucesso.

Estaria tudo ótimo, só que Simone vira um sucesso tão grande que o diretor não pode mais revelar a fraude e é obrigado a manter a “atriz” funcionando, fazendo mais filmes.

E, à medida em que ela se torna uma estrela cada vez maior, Taransky precisa se esforçar cada vez mais para perpetuar a ilusão.

Entretanto, embora seja ótimo ver Al Pacino em versão cômica, passando batom para deixar a marca dos supostos beijos de Simone nos lençóis do hotel – e embora algumas das observações que o filme faz sobre a condição de celebridade sejam corretíssimas -, o espectador sai com a sensação de que o longa-metragem ficou lhe devendo algumas risadas.

Os efeitos visuais que criam Simone, tanto na tela do computador de Taransky quanto em seus filmes, são fantásticos. Simone é um triunfo em matéria de design visual. O que é problemático é que boa parte do filme acaba sendo um trabalho solo de Al Pacino, com o ator sentado diante do grande console informatizado onde o cineasta dá “vida” à atriz virtual.

Niccol criou uma série de diálogos entre Taransky e Simone no qual o diretor formula perguntas e depois as responde ele próprio, apertando um botão que transforma sua voz na da atriz. Essas cenas são interessantes como conceito, e Al Pacino se mostra engraçado nelas.

A idéia mais inteligente do filme chega tarde demais na história: a maneira como Simone, aparentemente inanimada, acaba assumindo vida própria, de modo que, quando Taransky decide que quer pôr fim à farsa, descobre que isso será muito mais difícil do que simplesmente apertar o botão “deletar”.