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Sem emprego, vendas ainda patinam

O comércio varejista amargou em 2003 o terceiro ano consecutivo de queda nas vendas. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o ano fechou negativo em 3,68% ante 2002. Mais uma vez, os culpados pela retração foram o desemprego e a renda reprimida do brasileiro. Dois fatores que, apesar de apresentarem pequenas melhoras neste início de ano, ainda seguram o crescimento da economia. “A renda e o emprego são os dois limitadores para o comércio deslanchar”, afirma o técnico do IBGE, Nilo Lopes.

Em janeiro, o número de postos de trabalho na indústria até ensaiou um crescimento, mas ele aconteceu de forma tímida. De acordo com a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), foram abertas 2.123 vagas no período, o que significa uma alta de 0,14% em relação a dezembro. Apesar de pequeno, o resultado foi o melhor para os meses de janeiro desde 1995.

E há notícias ainda mais positivas. Dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI) detectaram uma pequena recuperação do salário médio do trabalhador da indústria, algo em torno de 3,2%. “Os sinais reforçam a tese de uma recuperação econômica mais forte neste ano”, afirma o economista da Tendências Consultoria, Adriano Pitoli.

Recuperação gradativa – A retomada da economia, no entanto, deve ser impulsionada mais pela expansão do crédito do que pelo crescimento da renda real, segundo boletim da própria Tendências. Isso porque, segundo os economistas, a recuperação dos salários e a criação de novas vagas são processos lentos. O reflexo deles no varejo parece ser ainda mais demorado.

De acordo com o IBGE, em dezembro passado houve aumento de 3,2% no movimento de vendas em relação a novembro. Mas, pelos cálculos do chefe do departamento de economia da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas, na comparação dessazonalizada (retirando as características do mês, marcado pelo movimento do Natal), houve um recuo de 0,5% nas vendas do período. “Houve uma queda no ritmo da melhora do setor”, diz.

Mesmo assim, ele prevê resultados positivos para 2004, com expansão de até 3,5% no comércio ante o ano passado.

Movimento fraco – A pesquisa do IBGE confirma que os setores que dependem mais da renda e do emprego tiveram desempenho acumulado pior em 2003. As maiores quedas acumuladas foram registradas em combustíveis e lubrificantes (-4,29%); hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-4,87%) e tecidos, vestuário e calçados (menos 3,08%). Reduções um pouco menores foram detectadas em móveis e eletrodomésticos (-0,91%) e demais artigos de uso pessoal e doméstico (papelaria e informática, entre outros, com 2,41% negativos).

As vendas de veículos, motos e partes (segmento pesquisado pelo IBGE, mas não contabilizado no cálculo geral da taxa) caíram 7,2% no ano. A forte recuperação desse setor no último trimestre é resultado da queda nos juros. O desempenho do comércio no primeiro semestre (-5,6% ante igual período de 2002) foi ruim por causa de “toda uma conjuntura desfavorável da economia, com juros caindo timidamente, política de controle da inflação e renda em queda”, na avaliação do IBGE.

No segundo semestre, que teve queda de 1,92%, houve o início de uma recuperação gradual do comércio porque “a inflação foi controlada e os juros começaram a cair de forma mais firme”, revela a análise do IBGE. Mas, segundo o instituto, “o que impediu um desempenho melhor foram as variáveis da renda e do emprego”.

Nos dois estados de maior participação na receita do varejo nacional, São Paulo e Rio de Janeiro, o desempenho do ano de 2003 foi diferenciado com queda acumulada de 3,65% e 6,87%, respectivamente.

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