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Selic versus PAC

Guarulhos, 26 de janeiro de 2007

A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de diminuir o ritmo da queda da taxa básica de juros (Selic) dividiu o mercado e integrantes do governo. A redução de apenas 0,25 ponto percentual na taxa, que passou de 13,25% para 13% ao ano, fez renascerem dúvidas sobre a sintonia entre o presidente do Banco Central e o ministro da Fazenda e levantou questionamentos sobre o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), anunciado na última segunda-feira e que prevê uma política que vai na contramão de juros altos. O ministro de Relações Institucionais, Tarso Genro, saiu em defesa da decisão do Copom e afirmou que a medida não reverterá a expectativa de crescimento econômico. "Isso (queda de 0,25 ponto na Selic) não se contrapõe ao PAC”, afirmou. Genro observou que o presidente Lula sempre demonstrou respeito pela "autonomia técnica" do Banco Central e do Copom, mas admitiu que "é óbvio que grande parte da sociedade esperava uma taxa ainda mais reduzida." Ele acrescentou que Lula não "politizou" a questão da taxa de juros e destacou que a decisão do comitê não terá impacto nas expectativas dos que defendem o PAC. "Até podemos achar que (o crescimento) será em ritmo menor, porque a sociedade brasileira esperava um declínio maior dos juros." Problema – Se o ministro Genro não vê contraponto entre a decisão do Copom e o PAC, a iniciativa privada vê. O diretor do Departamento de Economia do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), Boris Tabacof, acredita que o Banco Central começou 2007 com um "instigante problema nas mãos”. De um lado, disse, o descompasso entre o ritmo de vendas do comércio e o lento avanço da produção industrial poderia servir de argumento para redução na velocidade de queda da Selic. De outro, o anúncio do PAC e as expectativas positivas para a inflação em 2007, que aumentaram as apostas em uma queda de 0,5 ponto. "É decepcionante a decisão de reduzir a Selic em apenas 0,25 ponto percentual”, afirmou. A Associação Comercial de São Paulo (ACSP) também criticou a pequena queda da Selic. "Lamentamos que o Banco Central retire o pouco otimismo do mercado, uma vez que, há tão pouco tempo, o governo anunciou um plano para acelerar o crescimento”, disse o presidente da ACSP e secretário estadual do Emprego e Relações do Trabalho, Guilherme Afif Domingos. Parada estratégica – Ao contrário da maior parte dos analistas, o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, acredita que o Copom agiu com "maior parcimônia" e sinalizou uma parada técnica dos cortes da Selic. Para ele, a taxa ficará em 13% ao menos até junho ou julho, período em que o comitê passa a mirar a inflação de 2008 e poderá retomar o ciclo de queda dos juros, devendo levar a taxa a encerrar 2007 em 12% ao ano. Agostini lembrou que o PAC prevê aumento dos gastos fiscais no curto e médio prazos. "Isso deve aguçar o perfil conservador do Copom."