Risco de guerra ameaça crédito
Desde a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, bancos e empresas brasileiras conseguiram captar US$ 2,44 bilhões, um movimento que dá sinal de que a confiança externa no País está voltando. A proximidade de uma guerra no Golfo, entretanto, ameaça a continuidade do fluxo de crédito para o Brasil.
Diretor de investimentos para a América Latina da Idea Global de Nova York, maior consultoria mundial de investimentos, Ricardo Amorim acredita que, uma vez iniciada o conflito no Iraque, o mercado internacional vai se fechar para emissões de países emergentes. Pelo menos em um primeiro momento.
O executivo atribui a recente onda de captações do setor privado brasileiro, neste ano, à demanda não atendida nos últimos seis meses de 2002, mas adverte para o fato de que as captações recentes já atenderam à parte da procura.
– Como praticamente não houve emissões do setor privado brasileiro no segundo semestre do ano passado e ocorreram vários vencimentos de títulos ao longo desse período, os investidores que buscavam esses papéis, principalmente clientes de private banking, ficaram sem opção. As emissões recentes já atenderam à parte dessa demanda, o que também não colabora para que as emissões mantenham-se nos mesmos níveis do início do ano, ao longo dos próximos meses – lamenta Amorim.
As empresas estão optando por antecipar as emissões, certamente fugindo do risco futuro, na opinião de Miguel de Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).
Oliveira também acredita que a guerra afetará um pouco o processo de reabertura do crédito externo para o Brasil, dependendo da duração do conflito. Ele lembra, entretanto, que, do total de vencimentos previsto para o primeiro semestre, US$ 7,8 bilhões, cerca de 20% já foram negociados no ano passado, quando o câmbio tornou o resgate dos papéis atraentes para as próprias empresas. Ele calcula que apenas US$ 6,24 bilhões, efetivamente, estariam implicados nos vencimentos do semestre, portanto.
Além disso, a necessidade de recursos estrangeiros é menor hoje do que no ano passado, ressaltam os especialistas. Em 2003, o déficit em transações correntes do setor público e privado ficará em torno de US$ 32 bilhões, contra US$ 38 bilhões em 2002 e nada menos que US$ 58 bilhões, em 2001.
No ano passado, empresas e bancos brasileiros foram obrigados a pagar US$ 27,6 bilhões em amortização de dívidas e só receberam desembolsos correspondentes a US$ 18,7 bilhões. Resultado: não conseguiram rolar US$ 8,9 bilhões dos vencimentos, volume que afetou a taxa de câmbio, principalmente no segundo semestre.
Christine White