Retomada industrial se amplia
A retomada da atividade econômica atinge um número maior de setores, segundo a pesquisa Sondagem Industrial, divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI)
A pesquisa perguntou a representantes de 1.714 empresas se seu nível de atividade havia crescido, diminuído ou ficado estável ao longo do segundo trimestre do ano. A resposta foi “crescimento” em 21 dos 27 setores consultados. Em igual período de 2006, o desempenho positivo só foi registrado em oito setores. O de ontem foi o melhor resultado dos últimos dois anos.
“Os resultados apontam para a consolidação do crescimento da indústria”, afirmou o gerente da unidade de pesquisa da CNI, Renato da Fonseca, acrescentando que há risco de reversão, mas baixo.
O processo vem sendo puxado pela expansão do consumo interno. Os resultados da pesquisa são apresentados num sistema de pontos, em que números acima de 50 indicam desempenho positivo, e abaixo de 50, negativo. Por esse sistema, a produção da indústria atingiu 56,2 pontos no segundo trimestre, ante 49 em igual período do ano passado. O indicador de emprego chegou a 52,6, ante 48,8 pontos em 2006. A perspectiva de desempenho para os próximos seis meses chegou a 60,7 pontos, o que indica forte otimismo.
Além de mais espalhado, o aquecimento da atividade econômica chegou às micros e pequenas empresas, o segmento que menos reagia à melhora do cenário econômico interno. No primeiro trimestre do ano, a produção delas estava em 46,2 pontos e agora foi para 52,6. Em termos práticos, elas passaram de um desempenho negativo para positivo.
O problema é o mercado externo. Setores voltados para as exportações e que empregam muita gente, como os de couros, madeiras e calçados, estão entre os que tiveram pior desempenho no período. A expectativa em relação às exportações é, porém, negativa para toda a indústria, de acordo com a pesquisa. A perspectiva para o comércio exterior na segunda metade de 2007 ganhou nota 47,3, ante 48,9 pontos no primeiro trimestre.
“Esse (o câmbio) é um assunto que precisa ser acompanhado e estudado”, alertou Fonseca. “O perigo é o governo estar impondo uma mudança estrutural na indústria por razões conjunturais.”
Ele disse que a queda do dólar ante o real tem sido provocada em grande parte por razões momentâneas, das quais a principal é o ingresso de recursos estrangeiros em grande volume para aplicar no mercado interno e ganhar com a taxa de juro elevada. Esta, prosseguiu, é uma situação que tende a mudar, se a taxa Selic continuar em baixa e o mercado interno forte. Mas até que o quadro se modifique, é possível que alguns setores já tenham deixado de operar, provocando uma mudança estrutural no setor industrial.
“Quando as razões conjunturais acabarem, vamos querer recuperar a indústria, e isso vai ser mais difícil”, disse. “Corremos o risco de matar um setor não porque ele deixou de ser competitivo, mas porque o processo (de desvalorização do dólar) durou demais”.
Segundo Fonseca, o governo tem condições de interferir neste caso, pois é o responsável pelo ritmo de queda do juro.
Capacidade – O uso da capacidade instalada da indústria atingiu 75% no segundo trimestre. No primeiro, o nível estava em 73%. Entre as pequenas indústrias, o índice chegou a 69%, ante 71% no primeiro trimestre. Nas médias, o resultado foi 74%, ante 73% no período anterior. Entre as grandes, a utilização foi de 78% para 80%. (AE)