A queda da taxa de juro básica da economia, a Selic, começa a tornar a caderneta poupança um investimento mais atraente para os aplicadores. Na lanterninha da rentabilidade durante o ano passado, ela começa a despertar a atenção dos investidores mais conservadores. Motivo: os fundos de investimento mais conservadores estão perdendo performance.
Os fundos DI e Renda Fixa ainda rendem mais que a poupança, mas os consumidores já não podem mais aplicar neles de olhos fechados, certos de que estão fazendo o melhor negócio. Como a rentabilidade está menor, é preciso começar a prestar atenção na taxa de administração cobrada pelo banco, no Imposto de Renda e na CPMF cobrada dos fundos.
– Com a tendência de queda da Selic, a poupança ganha competitividade no mercado e sua rentabilidade se aproxima das aplicações em fundos, que pagam Imposto de Renda. Ela ganha na medida em que os fundos perdem performance – diz Roberto Santana, superintendente nacional de serviços de captação da Caixa Econômica Federal (CEF).
Isso acontece porque os fundos DI e Renda Fixa são carregados com títulos públicos remunerados com base na Selic. A poupança rende sempre TR (Taxa Referencial) mais 0,5% ao mês, o que resulta em 6,17% ao ano. Segundo José Renato Borba, gerente nacional de produtos de captação da CEF, o consumidor deve ficar atento: para ganhar da poupança o fundo tem que render, no mínimo, o dobro do que ela rende.
Em janeiro, diz Borba, alguns fundos DI chegaram a render menos do que a poupança. Já descontada a taxa de administração (que varia de 0,5% a 4%), a rentabilidade dos fundos conservadores variou de 1% a 1,33% em janeiro. A rentabilidade da poupança ficou em 0,63%. Feitos os cálculos, o fundo que rendeu 1% perdeu para a poupança.
Borba fez o cálculo com base no seguinte parâmetro: um depósito de R$ 100,00 feito no primeiro dia do mês e sacado 30 dias depois. No investimento em poupança, se ela tiver o mesmo número da conta corrente, o depósito não vai significar um saque. Por isso, o poupador não pagará CPMF na operação. Nos fundos, não tem jeito, o cliente paga 0,38% só para tirar da conta e aplicar num fundo. Ou seja: o poupador estará colocando R$ 100,00 na poupança. Na prática, o investidor do fundo terá começado o investimento com R$ 99,62, pois já pagou a CPMF.
Ao final dos 30 dias de janeiro, quem aplicou na poupança teve um rendimento bruto de R$ 0,63 sobre os R$ 100,00 depositados. O ganho bruto foi de R$ 1,32 para o fundo de melhor performance (fundo 1) e de R$ 0,99 para o fundo que rendeu 1% (fundo 2).
A cada 30 dias, sem ou com movimentação por parte do aplicador, os fundos de investimento pagam 20% de alíquota do Imposto de Renda. A poupança é isenta. Descontado o IR, o ganho do fundo 1 foi de R$ 1,05 e o do fundo 2, de R$ 0,79.
No saque, todos pagam os 0,38% da CPMF. Desta forma, o cliente da poupança sacou líquidos R$ 100,24. O do fundo 1, R$ 100,29. O do fundo 2, R$ 100,03 (menos do que a poupança). Para quem aplica o dinheiro por mais de três meses, a poupança fica ainda mais vantajosa, já que a partir deste período ela se torna isenta do pagamento da CPMF.
– Por causa dos impostos, um fundo só ganha da poupança se render o dobro dela. Nas aplicações acima de três meses, a vantagem da poupança aumenta – simplifica Borba.
Segundo o gerente da CEF, se a Selic baixar de fato para os esperados 13% a 14% ao ano no fim de 2004, a caderneta de poupança poderá passar a captar mais do que os fundos de investimento conservadores. Quem quiser ganhos maiores do que os dela terá de se contentar com as aplicações de maior risco.
Atualmente, os bancos têm que aplicar 65% do dinheiro captado em poupança em empréstimos do Sistema Financeiro da Habitação (SFH). O valor dos depósitos que ultrapassar este percentual fica aplicado no Banco Central e a instituição financeira é remunerada em apenas 80% da variação da TR. Ou seja, para os bancos, a poupança ainda não é um bom negócio.
Cleide Carvalho