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Prejuízo da Varig cresce 21 vezes

A Varig, maior companhia aérea brasileira, registrou nos primeiros seis meses do ano seu maior prejuízo em 74 anos de existência, causado, principalmente, pelo efeito da alta do dólar em sua dívida e pelos custos dos combustíveis.

O prejuízo de R$ 509,1 milhões é quase 21 vezes maior que o resultado negativo de R$ 24,5 milhões de reais do primeiro semestre de 2000 e cinco vezes superior ao prejuízo de todo o ano de 1999, considerado o pior período para o setor de aviação.

Analistas, como não poderia deixar de ser, viram com maus olhos os resultados e as perspectivas que eles representam para a empresa.

É o pior prejuízo de toda a sua história, torna a situação ainda mais complicada para a empresa, disse Carlos Antonio Magalhães, da Sirotsky & Associados, um dos únicos analistas que ainda acompanham o desempenho da empresa no mercado.

O patrimônio da Varig, positivo até o final de 2000, passou a ser negativo em R$ 657,8 milhões.

As duas subsidiárias também fecharam o semestre no vermelho. A Varig Participações em Transportes Aéreos perdeu R$ 27,6 milhões no período e a Varig Participações em Serviços Complementares, R$ 19,7 milhões.

O diretor de controladoria e de relações com investidores da Varig, Manuel Guedes, concordou que é “impossível não ficar preocupado com um prejuízo dessa magnitude”, mas enfatizou que a maior parte das perdas tem origem no impacto do câmbio sobre a dívida e custos com combustíveis.

O prejuízo, quando a gente olha o número absoluto, é muito elevado, mas o prejuízo em si, decorrente do câmbio, não é um problema para nós. Temos perdas apuradas, mas não saída de caixa, disse Guedes à Reuters.

Ele explica que a desvalorização cambial tem um impacto momentâneo no balanço da empresa, já que 65% da sua receita também é em dólar e contabilmente o balanço será equilibrado ao longo do tempo.

Informa que os pagamentos referentes à pesada dívida de US$ 1,25 bilhão da empresa – incluindo leasings de US$ 400 milhões – estão sendo feitos normalmente.

A Varig estuda também captações este ano no mercado, talvez por debêntures, para alongar o perfil do endividamento.

Além disso, até o final do ano vamos fechar a venda da participação na Varig Log, disse Guedes sobre a venda de 30% da empresa de logística da Varig. Esta negociação deveria ter ocorrido em julho, segundo havia dito à Reuters o presidente da empresa, Ozires Silva.

Uma venda dessa magnitude não sai de um dia para outro, justifica.

Outro plano da empresa é adotar um política mais agressiva nas promoções de passagens aéreas, aproveitando a liberação das tarifas pelo governo, e oferecer todas as alternativas possíveis para venda de passagens.

Estamos criando a Varig Virtual para isso. Vamos usar uma série de veículos, como TV a cabo, Internet de banda curta e larga, para estimular a compra de passagens, disse Guedes sobre a empresa cuja criação foi anunciada logo após a divulgação do prejuízo e onde serão investidos 50 milhões de dólares.

Estamos adotando políticas e estratégias que tendem a ter retorno no médio e longo prazos, aposta Guedes.

Para o analista da Sirotsky & Associados, a única saída para a Varig é se associar a uma empresa estrangeira e se captalizar, porque seu endividamento é muito alto e só uma reversão da queda do real ajudaria a Varig.

De todas as empresas aéreas, a Varig é a única que tem condições de se associar a uma estrangeira, porque é muito conhecida lá fora. Não vejo outra saída, opina Magalhães.

Ele lembra que a sua principal concorrente, a TAM – que ainda não anunciou os resultados do semestre -, também deverá registrar prejuízo, confirmando aos maus ventos para todo o setor de aviação.

É o setor que não vai bem, o negócio aviação tem que ser repensado no Brasil, avalia Magalhães.

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