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Preços são menores onde há mais concorrência

Oito anos depois do tiro certeiro do Plano Real no sistema de indexação monetária e três depois do sufoco em que foi implantado o regime de metas de inflação, o mercado está funcionando como manda o figurino. Os preços sobem menos nos setores em que mais fornecedores disputam a preferência dos consumidores. E resistem mais onde os fornecedores são poucos e poderosos.

Uma observação mais detalhada dos índices de preços ao consumidor, como o IPC da Fipe/USP, que é apurado na cidade de São Paulo, confirma essa tendência. No período de 12 meses até abril, a alta geral do índice foi de 6,43%. Mas, no conjunto, os preços dos produtos que compõem, por exemplo, o item alimentação subiram apenas 2,83%. Enquanto isso, os preços dos artigos de limpeza, no mesmo período, aumentaram 9,10%.

“Essas discrepâncias ocorrem por causa da organização de cada setor”, explica o coordenador do índice da Fipe, economista Heron do Carmo. “Quanto mais pulverizado é o setor, mais competitivo; quanto mais oligopolizado, menos competitivo.”

Na mesa de negociação, os executivos das redes de varejo suam menos a camisa para conseguir melhores preços quando enfrentam representantes de setores em que os líderes não são tão definidos. O vice-presidente comercial do grupo Sendas, quinta maior rede no ranking nacional dos supermercados, Nélson Sendas, confirma que as negociações de preços, em qualquer caso, são sempre difíceis, mas a barganha torna-se mais complicada quando os interlocutores são, por exemplo, do setor de limpeza e perfumaria, no qual é menor o número de concorrentes.

É o que explicaria a alta de quase 20% nos preços do sabão em pó, no mesmo período de um ano em que os preços em geral variaram pouco mais de 6%. “O sabão em pó Omo é, hoje, a marca mais poderosa dentro dos supermercados”, conta Sendas. “Na hora de negociar preços, pesa mais até que a marca líder de refrigerantes (Coca-Cola)”. Segundo Sendas, indústrias como a de biscoitos, com muitos fornecedores disputando as gôndolas, não podem se dar ao luxo de se manter em posição de força.

A queda de braço entre fornecedores e redes varejistas tem as suas sutilezas, mas onde o poder de fogo do vendedor é maior, os preços sobem mais rápido. A poderosa Unilever, por exemplo, nega, por meio de sua assessoria de imprensa. ter conseguido aumento nos preços de seus produtos em abril. Para Sérgio Nóia, diretor comercial da Companhia Brasileira de Distribuição (CBD)/ Grupo Pão de Açúcar , líder do setor, com mais de 400 lojas, que negocia diretamente com os setores de higiene e limpeza, a verdade é um pouco diferente. “Não houve realmente aumento no preço de tabela, mas houve, sim, redução no desconto negociado anteriormente.” Esse movimento rumo aos descontos menores na tabela foi acompanhado por todas as indústrias do setor.

O grupo Pão de Açúcar, diz Nóia, adota a estratégia de aceitar reajustes de preços para qualquer que seja a categoria de produtos, somente se a concorrência aumentar primeiro. “Dispomos de uma pesquisa diária, em nível nacional, de uma cesta de três mil produtos básicos, que nos dá condição de monitorar os preços da concorrência.”

A rede Carrefour, com 230 lojas, é outro gigante do setor varejista também se vale de seu poderio para barganhar com os fornecedores, como diz o diretor de marketing e comunicação, Alfredo Cernic.

“A organização das indústrias e as estruturas dos mercados têm de ser acompanhadas diariamente”, afirma Nelson Sendas. “Com a aquisição da Garoto pela Nestlé, por exemplo, as negociações com a indústria de chocolates podem ficar mais problemáticas.”. Fontes do setor varejista também revelam a mesma preocupação com o segmento de leite em pó, com a compra do leite Glória pela Parmalat.

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