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Povo gasta mais com educação e saúde

Guarulhos, 26 de junho de 2007

Nos últimos 16 anos a despesa média do brasileiro estagnou, passando de R$ 600 para R$ 601 ao mês

Mas houve importantes alterações na composição dessa despesa. O gasto com alimentação, que representava 22,16% do orçamento familiar em 1987, caiu para 18,7% em 2003. Segundo dados do livro “Gastos e consumo das famílias brasileiras contemporâneas”, lançado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), o hábito de consumo mudou consideravelmente no período, com destaque para produtos e serviços voltados ao bem-estar.

Um exemplo disso são as despesas com transporte e educação, que aumentaram nesse intervalo. Enquanto o primeiro serviço, que absorvia 13,08% da renda em 1987, saltou para 13,12% em 2003, o segundo pulou de 3,16% para 5,5%. Uma das organizadoras do livro e professora da Universidade Federal de Pernambuco, Tatiane Menezes, explicou que a migração de gastos ocorre porque o brasileiro melhorou de vida nos últimos anos. “As pessoas passaram a economizar com comida, que ficou mais barata, e começaram a investir em saúde, cultura e bens duráveis.”

O professor da FEA-USP e pesquisador da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) , Heron do Carmo, destacou que as economias mais desenvolvidas do mundo são aquelas em que se gasta menos com necessidades básicas e mais com serviços.
Carmo destacou que a redução de preços relativos, melhoria da renda e aumento do acesso ao crédito possibilitaram à população mais pobre o acesso a serviços e bens de consumo duráveis, como produtos de informática, geladeira e aparelhos de TV.

Mas, apesar de o gasto com educação ter se expandido, sua participação na despesa familiar continuou bem inferior à participação das despesas com habitação, por exemplo, que cresceu de 18,55% para 23,44% no período.

Classe média – A pesquisa mostra ainda que a melhoria das condições de vida observada nas camadas mais pobres não pode ser estendida à classe média, uma vez que os preços relativos de educação e transporte aumentaram, afetando diretamente os gastos das classes B e C. Além disso, as despesas com impostos tiveram crescimento significativo. “Estes sobem demais porque o ICMS apresenta altas alíquotas em serviços como telefonia, energia elétrica e combustíveis”, explicou.

Dentre os vários segmentos estudados, um dos mais preocupantes, segundo a professora Tatiane Menezes, é a saúde. O peso do gasto com esse item, que era de 6,29% em 87 e subiu para 8% em 1995, voltou a declinar, atingindo 6,91% em 2003. “Isso mostra que parte da classe média está deixando de pagar planos de saúde para ter assistência médica no SUS – Sistema Único de Saúde”, diz, completando que a migração ocorre por falta de opção da população diante dos altos preços dos planos.