Enquanto a expansão da economia brasileira foi de 3,4% no trimestre, isoladamente os investimentos avançaram 9% ante o primeiro trimestre de 2005. “O investimento avançou mais do que o PIB. Isso puxou a expansão da economia no período”, explicou a técnica do IBGE Maria Laura Muanis. Segundo ela, alguns dos motivos para o avanço dos investimentos são o ano eleitoral, programas como o de recuperação das estradas e a taxa de juros menor. Ontem, o Instituto também divulgou os valores do PIB, além da taxa de investimento.
Ipea – Na comparação com o último trimestre do ano passado, o PIB cresceu 1,4% em termos reais (descontada a inflação). Para o segundo trimestre deste ano, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) prevê uma leve desaceleração do crescimento (1,2% sobre o período anterior) e projeta um avanço de 3,8% do PIB no acumulado do ano.
Justamente o desempenho no primeiro trimestre fez o Ipea aumentar a projeção de avanço dos investimentos de 5,8% para 7,8% em 2006, fechando o ano numa taxa de 20,5% sobre o PIB.
Na avaliação do economista da MB Associados, Sérgio Valle, é preciso cautela na análise do investimento. “Mesmo tendo este percentual relativamente bom, não é suficiente para crescer a taxas mais elevadas”, disse. Valle lembra que o crescimento da construção reflete mais projetos residenciais do que obras de infra-estrutura ou de fábricas. Para o PIB crescer acima de 4%, o País precisaria de uma taxa de investimento “de pelo menos 25% do PIB”, afirmou o economista.
“Para uma taxa de investimento mais ambiciosa, precisa-se fazer uma reforma fiscal efetiva, controlar os gastos correntes. Aí será possível aumentar o investimento público em infra-estrutura. Enquanto não tiver isso, não tem como aumentar a competitividade e reduzir custo, além de juros mais baixos”, disse Valle.
No primeiro trimestre, o investimento somou R$ 97,7 bilhões – R$ 10,2 bilhões acima do mesmo período de 2005.
As demais parcelas do PIB, pela ótica da demanda, foram as seguintes: consumo das famílias, R$ 277,8 bilhões; consumo do governo, R$ 84,6 bilhões; exportações de bens e serviços, R$ 74,8 bilhões; e importação de bens e serviços, R$ 58,8 bilhões.
Setores – A indústria movimentou R$ 168,6 bilhões; agropecuária, R$ 34,7 bilhões e serviços, R$ 248,3 bilhões. Do valor total do PIB divulgado ontem, R$ 54,2 bilhões foram impostos sobre produtos.
De forma geral, o peso dos setores ficou quase estabilizado. Uma estimativa do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) indica que o peso da indústria na economia cresceu de 36,9% para 37,3%, e de serviços, de 54,4% para 55%, favorecidos pelo avanço da massa de salários. Já o peso relativo da agropecuária encolheu de 8,7% para 7,7%. O IBGE calcula esses pesos apenas com o resultado fechado de cada ano.
Consumo – Além do investimento, o crescimento do PIB no trimestre também foi puxado pelo consumo das famílias, que subiu 4% sobre o mesmo período de 2005. Como o consumo cresceu, sobra menos para poupar na economia, afirmou Maria Laura. Isso explica por que a taxa de poupança recuou de 22,4% no início do ano passado para 21,6% no primeiro trimestre deste ano.
Ainda segundo os dados do IBGE, a capacidade de financiamento da economia (comparável ao superávit em conta corrente) foi de R$ 3,6 bilhões – abaixo dos R$ 7,2 bilhões em 2005. A redução, segundo o IBGE, foi causada pelo encolhimento do saldo externo de bens e serviços e pelo aumento de envio de receitas de lucros e dividendos ao exterior. O aumento mais forte das importações do que das exportações reduziu o saldo externo de bens e serviços.