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Paulistano está com o bolso vazio

Guarulhos, 18 de outubro de 2006

Comemorações de final de ano, férias escolares e o tão esperado 13º salário são os elementos que costumam impulsionar as vendas do último trimestre. Mas neste ano, a maioria dos consumidores não pretende ir às compras. De acordo com pesquisa do Programa de Administração de Varejo (Provar), da Fundação Instituto de Administração (FIA), em parceria com a Canal Varejo, 63% dos paulistanos não pretendem adquirir produtos de outubro até dezembro, ao contrário do que apontou a pesquisa do instituto Ipsos, encomendada pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP), que mostrava o consumidor mais otimista.

O estudo do Provar considerou a intenção de compras dos paulistanos para segmentos como automóveis, cama, mesa e banho e eletrodomésticos, entre outros. Em quase todos eles, há baixa disposição de gastar quando comparado aos índices registrados no trimestre anterior. “Os resultados são um reflexo da saturação dos crediário e financiamento de bens duráveis”, explica o coordenador técnico da pesquisa, professor Luiz Paulo Fávero.

Entre aqueles que pretendem adquirir algum item no período analisado, a preferência está para o segmento de informática, com 7,2% de intenção de compra, seguido pelos produtos da chamada linha branca, com 6,8%. Já o setor de telefonia celular aparece em terceiro lugar, com 6,6% da intenção de compra. Mesmo assim, esses três setores registram queda significativa em relação ao trimestre anterior, que eram de 30,77%, 49,25% e 42,11% respectivamente.

Gastar mais – Diferentemente dos resultados da intenção de compra, aumentou a intenção de valor a ser gasto. O setor de autopeças, por exemplo, teve aumento de 223,44%, passando de R$ 320, no último trimestre, para R$ 1.035 no próximo período. Já o setor de móveis, apesar de figurar entre os últimos produtos na lista de intenção de compras, registrou aumento de 118,68% na expectativa de gastos, passando de R$ 668 reais para R$ 1.461,54.

Para Fávero, isso demonstra como os pequenos aumentos dos níveis de emprego e renda estimulam elasticamente o incremento do gasto após períodos de consumo represado.

Perfil – O professor explica que outra mudança importante refere-se ao perfil do consumidor que utiliza o crediário como forma de pagamento. “Antes, o crediário era feito, em sua maioria, por pessoas de baixa renda, que já estão endividadas. Verificamos que, hoje, as classes média e média baixa são as maiores usuárias de financiamentos”, diz.

Para Fávero, a economia vive uma bolha prestes a estourar. “Corremos sérios riscos de que essa bolha estoure no primeiro trimestre de 2007 e tenhamos um alto índice de inadimplência.”

A telefonista Sandra Cristina Oliveira é um bom exemplo desse novo perfil de quem utiliza crediário. Sua renda familiar mensal é de R$ 1,8 mil e ela já tem R$ 280 comprometidos com um crediário nas Casas Pernambucanas.

“Comprei um celular e vou pagar em seis vezes.” Ontem, Sandra estava na Casas Bahia comprando uma máquina de lavar roupas, , que vai pagar em dez vezes. “Estou comprando agora, que é mais barato, pois no Natal não passarei nem perto das lojas.” Já o segurança Geraldo de Oliveira, que pretende se casar no final do ano, passou a tarde comparando preços de geladeira e fogão.

“Quitei meu último carnê, de uma televisão, que parcelei em 18 vezes, no mês passado.” A renda mensal de Oliveira é de R$ 1,2 mil. Desses, ele pretende comprometer, até o final do ano, pelo menos R$ 800 em prestações. “Se dá para viver com o resto? É o jeitinho brasileiro. Hoje, o trabalhador não consegue comprar nada à vista, nem comida.”

A observação de Oliveira vai ao encontro de outro dado da pesquisa: os consumidores estão parcelando inclusive as compras de supermercado, que antes constavam no orçamento, através dos cartões de afinidade dos supermercados.