Para onde vai o seu dinheiro?
Como você administra seu orçamento? Os estudos dos especialistas no assunto revelam que, provavelmente, seus custos com moradia são expressivos, independente de quanto você ganhe por mês. Mais do que simples curiosidade, conhecer a participação de cada categoria de gasto no orçamento familiar é fundamental para entender o impacto dos aumentos de preços na população.
Para o economista Heron do Carmo, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor, IPC da Fipe, isso pode explicar porque algumas pessoas ou classes sociais sentem mais ou menos quando o valor de determinados produtos sobe ou desce. “Entender essa divisão de gastos para cada faixa de renda é importante porque mostra o impacto dos aumentos de custos para as diferentes categorias da população”, disse durante reunião do Conselho Consultivo do Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC) na sede da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
É por esse motivo que as classes média e alta não têm sentido redução nos gastos, apesar dos índices de preços indicarem deflação. Os produtos cujos valores caíram mais foram justamente os alimentícios, que apresentam peso maior no orçamento das famílias de renda mais baixa. Em contrapartida, tarifas administradas (como a de telefonia) sofreram grandes reajustes.
Ranking dos gastos – Em tempos de renda apertada, os gastos com habitação estão entre os que têm participação maior no ranking de gastos da população de São Paulo, segundo Heron do Carmo. Eles costumam abocanhar entre 25% e 35% dos rendimentos das famílias de todas as classes sociais. E mais: quando uma pessoa consegue uma elevação na renda, ela geralmente aumenta seus gastos com habitação na mesma proporção.
Nessa categoria de custos estão inclusos serviços públicos (as tarifas que subiram), mobiliário, aluguel, aparelhos de imagem e som, eletroeletrônicos, informática e telefonia, artigos de limpeza e conservação, entre outros.
Já o grupo alimentação tem peso muito diferente para cada faixa de renda. “À medida que aumenta o rendimento, cai a participação da categoria nos gastos totais”, afirma o economista. Para os que recebem até dois salários mínimos, a alimentação toma 35% dos rendimentos. Já para quem tem uma renda superior a 50 salários, esse percentual fica entre 11% e 12%.
Exatamente o contrário do que ocorre com a educação, que cresce em importância junto com o rendimento. Heron do Carmo lembra que, na faixa acima de 30 salários mínimos, os gastos com educação chegam a ser maiores do que os com alimentação.
Estáveis – Outros grupos de produtos e serviços permanecem estáveis em todas as classes sociais. Vestuário é um desses. Ele toma entre 5% e 6% dos rendimentos das famílias. Já as despesas pessoais (o que inclui lazer e entretenimento) comprometem entre 10% e 15% do orçamento. “Isso porque nesse valor está inserido qualquer gasto de lazer, como, por exemplo, a cerveja tomada no bar da esquina, que até as pessoas de renda mais baixa tomam”, explica o economista Heron do Carmo.
Na parte de saúde, que ocupa entre 5% e 10% dos salários, aparece a diferença entre as classes sociais. As famílias mais abastadas têm um comprometimento percentual um pouco maior da renda porque pagam planos de saúde. Quanto maior o rendimento, mais completo (e caro) é o plano escolhido.
Estela Cangerana