As apresentações das plenárias desta quinta, 17 de junho, durante o Fórum da Sociedade Civil (FSC), que acontece paralelamente à Unctad XI, culminaram numa coletiva de imprensa em que algumas ONGs expuseram o consenso de propostas das organizações sociais para reformar a ONU. O representante do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), Cândido Grzybowski, disse que, embora o grupo mantenha um processo permanente de diálogo durante o FSC, as ONGs conseguiram formatar cerca de 50 propostas específicas a favor de alterações da ONU.
Entre os problemas apontados durante o dia, a independência da ONU ” mais especificamente a financeira ” foi tida como a principal meta a ser alcançada por uma possível reforma do órgão (a ONU deve acelerar, a partir de 2005, as discussões sobre a reforma da instituição). Para Gustavo Marin, da Alliance pour um Monde Responsable et Solidaire, é necessário haver uma força militar, capaz de resolver e evitar os conflitos internacionais. Essa força seria dirigida, segundo ele, por um Conselho de Segurança que represente todos os países membros da ONU – e não apenas cinco, como ocorre atualmente. A outra proposta apresentada foi a criação de um Parlamento Mundial, em que todas as nações teriam direito à voz e tomariam decisões em torno de consensos.
Durante as plenárias da manhã e da tarde, Fátima Mello, da Rede Brasileira pela Integração dos Povos (Rebrip), insistiu que “é inevitável uma reforma do sistema multilateral, pois ele é o espelho das relações de poder dos Estados”. O representante do governo na mesa, Giorgio Romano, assessor especial para assuntos internacionais da Secretaria-Geral da Presidência, respondeu que essa mudança já está em curso, visto que o Brasil é um líder no que tange as negociações entre países do comércio Sul-Sul. Romano informou ainda que a Espanha acaba de se juntar ao time ao lado do Brasil, França e Chile para apresentar à ONU, em agosto, uma série de propostas concretas para realizar as metas do milênio.
O tom geral do dia foi um ricochete da declaração do secretário-geral da ONU, Kofi Annan, em visita oficial ao FSC, na Unctad XI, quando ele disse que “é preciso manter a pressão”. Com base nessa premissa, o Network Institute for Global Democratization (NIGD), representado na coletiva por Teivo Teivainen, propôs que seja criada uma taxa na compra e venda de divisas, para tentar resolver o problema da dependência financeira da ONU. Ele lembrou que um Parlamento Mundial, junto da sociedade civil, pode responsabilizar-se pela administração desse fundo. A ONG italiana, Mesa da Paz, lembrou que a ONU não deve ser uma organização para os Estados, mas sim para os povos. Por isso mesmo, a ONG defende que a ONU volte a ter soberania e independência financeira, deixando de atender aos interesses de alguns países apenas. Também foi enfatizado que as Nações Unidas (e, no caso, a Unctad) devem ter mais autonomia para agir. Para Josep Xercavins, representante da organização catalã Ubuntu, os cidadãos de todo o mundo precisam ser alvo de uma campanha para conscientização da necessidade de reformas da ONU. Xercavins ainda reforçou que o Conselho de Segurança deve assegurar representação aos países detodas as regiões do globo.