Você sabe qual é o mais novo fenômeno de bilheteria que chegou a desbancar o primeiro lugar de Matrix? Por incrível que pareça, é uma comédia, o último sucesso de Jim Carrey: ?O Todo Poderoso?. Trata-se da história de Bruce Nolan, repórter de uma emissora de televisão de Buffalo, EUA, que é agraciado com os dons de Deus, atribuído pelo próprio. Uma semana depois de deitar e rolar com seus novos poderes, Deus, interpretado por Morgan Freeman, volta para cobrar resultados: ?O que você fez para ajudar as pessoas? Têm ouvido suas preces??, Bruce responde meio sem jeito: ?Bem, é que eu estive ocupado arrumando algumas coisas na minha vida primeiro?.
E o empresário? Como ele lida com o poder? Já vi muitos falarem na cara dura: ?A empresa é minha, eu faço o que eu quiser, se ela fechar, o problema é meu!?. Ora, o problema é dele? Ou o problema é dele e de outros ?stakeholders?? Stakeholder é toda e qualquer entidade que tenha algum interesse ou relacionamento com a organização. O governo tem interesse em recolher impostos e estimular o desenvolvimento da iniciativa privada. Os sindicatos querem saber se os funcionários têm seus direitos respeitados. Os fornecedores querem vender para sua empresa. Os clientes querem ser atendidos por seus produtos e serviços. Os funcionários querem receber uma remuneração em troca de seu trabalho. Os acionistas esperam uma remuneração do capital investido. Todos estes são exemplos de stakeholders e todos serão impactados com o fracasso do empreendimento no qual têm interesse.
O empreendedor não é uma ilha, ele depende de outros tanto quanto os outros dependem dele. Trata-se de uma complexa rede de relacionamentos, obrigações, deveres e necessidades a serem atendidas que acaba por envolver outras pessoas. É um erro muito comum, mas muito grave também, achar que o fato de deter o poder lhe dá o direito de cometer erros e tomar decisões inconseqüentes. Muitos dependem desta organização e acabarão por fazer algo para impedir o empreendedor de colocar em risco seus interesses.
A idéia de que o trabalhador precisa do emprego e por isso ele deve se sujeitar a seguir cegamente às ordens dos superiores remonta dos primórdios da história da administração, mas não faz mais sentido nos dias de hoje. A competitividade e a dinâmica do mercado faz com que os empresários centralizadores tenham muito mais dificuldades em conduzir seus negócios do que aqueles que promovem algum tipo de gestão participativa, em que os funcionários podem opinar e tomar algumas decisões sobre seu trabalho.
O empresário tem que compreender que, na medida que sua empresa cresce, cresce também a sua complexidade. É extremamente difícil controlar tudo, administrar e organizar tudo, lidar com todos os tipos de problema que surgem em qualquer processo interno. Existe um ponto de equilíbrio a partir do qual a centralização passa a ser prejudicial para a empresa. A tecnologia também está permitindo um avanço nestes novos modelos de organização. As decisões e informações fluem mais facilmente na empresa, a atividade puramente braçal está sendo substituída pela tecnologia, resta aos trabalhadores desenvolver habilidades mais ?intelectuais? que agreguem mais valor no sentido de explorar da melhor forma possível a tecnologia aplicada e daí para participar mais ativamente das iniciativas organizacionais, é um apenas um passo. É justamente o primeiro passo o mais difícil de dar ao empreendedor que passa por esta migração para o modelo delegativo.
Lembro-me de um empresário, que, durante um bingo promovido pelos funcionários para arrecadar dinheiro para uma entidade assistencial de sua cidade, reparou que as mais de 200 pessoas lá reunidas, familiares e amigos dos quase 70 funcionários, estavam lá, naquela noite, por causa dele. Muitas famílias dependiam do salário que ele pagava e isso lhe causou um repentino ?peso? da responsabilidade sobre seus ombros e desde esta noite ele passou a ver com outros olhos a forma como conduzia sua empresa e mudou radicalmente muitas de suas atitudes e decisões tidas como repreensíveis pelos demais.
Lembro-me também do que outro empresário, que possui uma empresa de terraplenagem, me disse uma vez: ?Às vezes eu me esqueço que tenho uma empresa e percebo que tenho nas mãos o poder de trazer a felicidade e a esperança para as várias famílias dos funcionários que emprego. Da primeira vez que me dei conta disto, consegui repensar minha missão na Terra e assumi o compromisso de crescer para gerar empregos. Isso me faz uma pessoa mais realizada.? Chegará o dia em que o empresário descobrirá que seu principal papel é social e não econômico.