Um aperitivo do que há para ser feito foi servido pelos bancos na semana passada. Na fase inicial, apenas pagamentos acima de R$ 5 milhões entraram nos novos sistemas de Transferência Eletrônica de Dinheiro (TED). Valor alto demais até para a maioria das grandes empresas. O jogo começou então quase só com os bancos. Temerosos, eles puseram o pé no freio e, no primeiro dia, alguns mercados chegaram a ter menos de 10% do volume normal de negócios. Mas, com tanta cautela, as instituições conseguiram todas manter seu saldo no azul junto ao Banco Central – regra nova que só terá que ser seguida efetivamente em agosto. As empresas não financeiras terão prazo parecido, mas estão menos preparadas. Em agosto, pagamentos de R$ 5 mil para cima passam a ser feitos pelo sistema on-line. E aí as empresas precisarão estar livres dos habituais desencontros entre as áreas administrativa, comercial e financeira, que costumam gerar pagamentos equivocados e estornos nos bancos. “O caixa tem que ser certinho, senão a empresa passa a depender do cheque especial. E isso tem um custo”, sublinha Reinaldo Le Grazie, diretor-executivo de tesouraria do Lloyds TSB.
Quando o sistema estiver a todo vapor, a transferência eletrônica retirará do mercado apenas 1,2% do total de cheques emitidos no País, segundo o Banco Central. Somados, porém, eles significam 70% do dinheiro que circula pelas câmaras de compensação. Para o comércio, isso significa que os lojistas continuarão recebendo cheques de pequeno valor, e que eles prosseguirão sendo compensados em um ou dois dias. Em supermercados, na média, os cheques representam 7% a 10% do faturamento. Os pagamentos a fornecedores, porém, deverão ser todos instantâneos. Omar Assaf, presidente da Associação Paulista dos Supermercados (Apas), acrescenta que vai ocorrer descasamento até com dinheiro vivo, quando um comerciante não puder depositá-lo no mesmo dia. O resultado será uma maior necessidade de capital de giro, para cobrir a deficiência de caixa. “O jeito é calcular a perda e absorvê-la toda de uma vez, em um dia. Depois as contas se reestabilizam”, explica. Na indústria, essa necessidade de mais capital de giro foi calculada pela Fiesp em R$ 1,3 bilhão ao mês.
Nesse cenário, crédito será ferramenta básica para as empresas cobrirem suas contas no dia-a-dia. “As empresas precisarão de linhas disponíveis no instante em que receberem informações sobre suas contas”, explica Henrique Chitman, diretor de produtos do Banco Santos. Na outra ponta, porém, elas poderão obter redução de tarifas. Uma transferência pelo TED começou custando o mesmo que um DOC tradicional, mas, além de muito mais segura e rápida, tende também a ficar mais barata. O novo produto estimula competição entre os bancos, já que instituições pequenas ganham capacidade de pôr dinheiro à disposição de seus clientes em qualquer parte do País, instantaneamente. “A comodidade estimulava a concentração nos bancos grandes. Agora, o SPB dará mais espaço para instituições periféricas”, afirma Alfredo Moraes, diretor de gestão de riscos da Federação Brasileira das Associações de Bancos (Febraban).