No ano passado o governo federal gastou mais do que arrecadou e acabou no vermelho. Para tentar colocar as contas em dia e recuperar a confiança dos investidores, Dilma Rousseff lançou mão de um rigoroso programa de ajuste fiscal, que afeta a todos: governo, empresas e o cidadão.
O acesso a benefícios sociais e trabalhistas foi limitado. Foram retiradas as desonerações para alguns setores da economia, e impostos foram elevados. Não havia outra maneira de arrumar a casa, afirmam os especialistas em finanças públicas, o que não significa que concordem com a íntegra das medidas.
Para José Roberto Afonso, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, o governo peca em não prever um plano de consolidação fiscal para suceder o ajuste. Na crise global de 2009, por exemplo, muitos países europeus reformaram os seus regimes de previdência social. Os EUA optaram por uma reforma radical do serviço de saúde. “Já o Brasil foi um dos raros países que não promoveu nenhuma reforma em resposta a crise. Talvez não seja coincidência que registre o menor potencial de crescimento entre as maiores economias do mundo”, questiona.
Outro erro, este apontado pelo economista Roberto Piscitelli, da Universidade de Brasília (UNB), é o governo persistir na manutenção das altas na taxa básica de juros, a Selic.
Metas
Para tentar deixar a casa em ordem a equipe econômica do governo estabeleceu a meta para o superávit primário, de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB), o equivalente a R$ 66,3 bilhões. O governo perdeu o controle das contas no ano passado porque foi um ano eleitoral e, para manter a imagem da presidente-candidata, os gastos foram exorbitantes.
O governo mostra ter reconhecido que o modelo usado para impulsionar a economia na última década, baseado no estímulo ao consumo, não funciona mais. Uma das saídas para a crise, agora, consiste em estimular os investimentos. Isso, porém, não surtirá efeitos imediatos nas contas públicas.
Concordando ou não com a política adotada, o importante é que as regras e estratégias do governo estejam claras para o investidor. “Diante do incêndio em que estava o quadro fiscal e mesmo macroeconômico, foi o que os bombeiros das autoridades econômicas puderam fazer. Se o fogo parece sob controle, resta traçar uma estratégia para apagar e reconstruir a economia, que exige plano e visão de longo prazo”, diz Afonso, do Ibre.