Muitos não sabem quanto pagam
Os profissionais listados no ranking do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT) como maiores pagadores da Contribuição Provisória Sobre Movimentação Financeira (CPMF) estão indignados. Divulgada pelo Diário do Comércio, a pesquisa revela que o brasileiro precisa trabalhar, em média, sete dias para arcar com esse gasto extra mensal
Uma das atividades mais atingidas, segundo o estudo, é a de cabeleireiros e manicures, que trabalham quatro dias para pagar R$ 93,98 ao ano. É exatamente o dobro da contribuição da classe em 1997, quando surgiu a CPMF (cuja alíquota passou de 0,2%, então, para 0,38%, hoje).
De acordo com o presidente da Associação dos Profissionais dos Institutos de Beleza do Estado de São Paulo, Francisco Ferreira, a maioria dos clientes desses estabelecimentos não anda com dinheiro ou cartão por medo de assaltos. “Por isso, grande parte dos pagamentos é feita com cheques cruzados. Todos os dias o cabeleireiro precisa ir ao banco depositá-los”, explica.
Muitos institutos de beleza fecham pacotes de serviços, que são pagos em várias vezes no cheque. É o caso da proprietária da Depilage Depilação Clean, no centro da cidade, Simone Batista. “Recebo muito em cheque, mas é melhor que receber em cartão, que tem uma taxa maior que a CPMF. Não tem jeito, a gente perde em todos os lados”, lamenta.
Para diminuir o prejuízo, a cabeleireira Sandra Silva de Oliveira deposita parte do salário e procura pagar as contas do dia-a-dia em dinheiro. “Mesmo assim, paguei R$ 13 de CPMF no mês passado. Se eu somar mês a mês, dá mais que a média anual de R$ 94”.
A esteticista Edineusa Meneses de Souza não sabia que pagava tanto para movimentar a conta no banco. “Nossa, com esse dinheirão todo dava para colocar gasolina, pagar o pedágio da viagem no final do ano e ainda comprar roupas”, comenta. Já a manicure Lúcia Aparecida dos Santos, que tira dinheiro aos poucos no caixa eletrônico, acha um absurdo o valor debitado. “Essa tal da CPMF é brincadeira, mesmo. Esse dinheirinho extra no final do ano faz muita falta”.
“Um horror” – Advogados e contadores também reclamam. De acordo com a pesquisa do IBPT, eles ocupam o segundo lugar como maiores pagadores da CPMF, precisando trabalhar seis dias para arcar com R$ 161,10 anuais. O advogado André Troesch diz que geralmente recebe dos clientes em cheque. “Os custos com as papeladas também são pagos dessa forma, ou por transferência bancária. Preciso movimentar minha conta todos os dias, o tempo todo”, afirma.
O contador Reginaldo Alves Angelli, da Volpi & Contjet Assessoria Contábil, lembra que o tributo foi criado há dez anos para ajudar a área da saúde, mas diz que não viu nenhum resultado até hoje. “Toda a minha movimentação bancária é pela internet, que também gera uma CPMF gigantesca. Um horror”. Segundo Angelli, sem a CPMF, seu dinheiro poderia ser aplicado num fundo de renda fixa. “Quando necessário, eu usaria esse dinheiro para despesas adicionais, como uma viagem”.