Mudar para inovar, a lógica do varejo
A lógica do varejo é a constante mudança e inovação. Sobrevive melhor aquele que se antecipa ou facilmente se adapta às mudanças. A opinião é de Heliana Vargas, professora do Departamento de Projetos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Ela esclarece que, enquanto algumas padarias culpam os grandes super- e hipermercados pela concorrência com a venda de pãezinhos, esquecem-se de que a indústria do pão e dos congelados também responde por parte de sua atual dificuldade. “Outras, por sua vez, encantam seus consumidores, ofertando uma diferenciada gama de produtos e serviços, só possível pelo processo artesanal sob o qual as padarias têm domínio”.
Heliana questiona se um ponto de ônibus poderia afetar as vendas de uma banca de pastel ou se as ruas de tráfego intenso chegariam a comprometer o bom desempenho das lojas. Na sua opinião, no comércio da capital, que tem cerca 330 mil estabelecimentos, “a única certeza é que o fluxo de pessoas é a sua razão de ser”.
Ela observa que quando a rua Augusta foi transformada em rua de pedestres acarpetada, na década de 70, apesar do seu charme, foi um verdadeiro desastre para o seu comércio. “O tráfego de veículos era fundamental”, salienta. Isso, no entanto, seria incompatível para o comércio da rua Santo Amaro, “cujos comerciantes ficariam confinados em seus estabelecimentos.”
Outros casos evidenciam que o fluxo de pessoas, com a mistura de camelôs, bancas de jornal, vendedores de sanduíches, garantem o sucesso do ponto comercial – como é o caso da Rua Vinte e Cinco de Março que, com seus três mil estabelecimentos, nos dias de pico chega a contar com um volume 1 milhão de pessoas e chega a faturar R$ 7 bilhões por ano.
A professora da USP diz que os pontos de ônibus são elementos geradores de fluxo, pois concentram pessoas e desta forma “são, por princípio, elementos que contribuem para o crescimento do comércio.”
“O perfil do público que se utiliza do ponto de ônibus é que vai definir, em parte, o tipo de comércio que melhor usufruirá desta localização”, afirma Heliana. “As atividades do entorno, o tempo de permanência na espera do ônibus, ou o itinerário, são algumas outras características que interferem no perfil do usuário do ponto”.
A comprovação disso pode ser sentida na região do Bom Retiro, com mais de 1800 estabelecimentos, onde convivem, lado a lado, ambulantes, vendedores de sorvete, de água de coco, e onde os consumidores chegam a atingir o número de 800 mil em ocasiões especiais.
Para Heliana, na capital, os pontos de ônibus e terminais são importantes pólos geradores de fluxo para o comércio de rua. Caso contrário, acredita ela, não seriam encontrados tantos pontos de comércio improvisados tentando serví-los. “Também os aeroportos, pelo tempo de espera dos passageiros para embarcar, têm se transformado em shopping centers, e consideram a possibilidade de vir a incorporar praças de cinema”.
A especialista frisa que não apenas bancas de jornal podem interferir nas vendas dos lojistas. “Qualquer elemento que obstrua a visão e a identificação de um estabelecimento pode comprometê-lo, principalmente se seus produtos forem característicos das compras por impulso. No entanto, se bem localizadas e devidamente inseridas nas calçadas, esquinas ou praças, bancas podem, inclusive, servir como elemento de atração”.
Celia Moreira