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Mortalidade cresce e exige atenção maior

O número de empresas que fecham suas portas cresce sem parar: de acordo com a Junta Comercial do Estado de São Paulo, a mortalidade de empresas saltou de 9.736 em 1996 para 45 mil em 2002, um crescimento de 362%. Este ano, o número de falências em São Paulo já chega a 17.951.

O número de empresas inativas também cresceu. De acordo com a Receita Federal, este ano foram registradas 2,7 milhões de inativas, ante 2,2 milhões em 2002.

Diante de um problema dessa dimensão, o presidente do Instituto Brasileiro de Gestão e Turnaround (IBGT), Jorge Queiroz, aconselha: as empresas devem tomar iniciativas antes de a falência se tornar inevitável.

Segundo ele, o ambiente para negócios no Brasil hoje é muito hostil. “As empresas precisam aprender a trabalhar na crise e a detectar os sinais de alerta”, diz.

Diagnóstico

O diagnóstico precoce da crise pode salvar a empresa da falência. De acordo com Queiroz, o excesso de inventário, ou seja, de matéria-prima, insumos, produtos ou mercadorias acumuladas é um sinal de crise.

A inadimplência, o recebimento a longo prazo, a composição de lucros e perdas também devem ser considerados.

Outro indicador importante é o fluxo de caixa. “Se o faturamento cair sucessivamente, não significa que a empresa está em crise, mas a partir daí o empresário precisa buscar alternativas para recuperá-las”, aconselha Queiroz.

Outra dica: antes de decretar estado de crise, deve-se separar as contas da pessoa física e da jurídica, que geralmente são misturadas nas micros e pequenas empresas.

“Caso contrário, não há como saber quanto o negócio fatura e qual o custo”, alerta.

Preço ganha importância

Se for constatada a crise, o primeiro passo para a cura é adequar o negócio ao mercado atual. Isso significa adaptar o porte da empresa, o número de funcionários, os custos fixos e, principalmente, o preço.

Queiroz explica que é preciso atender às expectativas do consumidor, que na crise dá mais valor ao preço e às condições de pagamento que à qualidade.

“Não adianta insistir em que seu produto tem qualidade, isso não convence o cliente”, alerta.

Por outro lado, a redução de preço não pode significar riscos para o consumidor. “Troque a matéria-prima, por exemplo, mas sem implicar riscos para o cliente, o que pode sair muito mais caro”, ensina. Outra dica importante para micros e pequenas empresas é administrar pelo fluxo de caixa.

Essa estratégia significa projetar as entradas (bruta e líquida) e as saídas diárias para os próximos 30 dias e semanais para os dois meses seguintes, incluindo todas as obrigações tributárias, investimentos e compras. “Depois, deve-se comparar o resultado real com o planejado”, ensina o presidente do IBGT.

Fugir das dívidas

Contrariando o senso comum, o momento de crise não é o mais adequado para grandes investimentos.

“Vale a pena reformular o produto e inovar, desde que não se gaste muito e não se faça dívidas”, aconselha Queiroz.

Para Júlio Tadeu Alencar, consultor especialista em produtividade do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae- SP), este pode ser um bom momento para ganhar clientes atendendo às necessidades que os concorrentes não estão suprindo.

Um atrativo pode ser flexibilidade: “A maioria das assistências técnicas só atende no horário comercial, mas o consumidor que trabalha fora não pode receber um técnico nesse horário”, ressalta. Ele aconselha a criação de horários alternativos, que se adaptem ao cliente.

O consultor dá outro exemplo: nos restaurantes, geralmente há manobristas para recepcionar os carros e estacioná-los. No entanto, na saída os clientes ficam muito tempo aguardando o manobrista buscar o veículo. “Por que quando o cliente pedir a conta o manobrista não pode ser acionado?”, questiona Alencar.

Ele lembra, ainda, que já há concessionárias que buscam e levam o carro em casa para fazer revisão ou conserto. “O cliente preza o conforto. Quem se dispõe a trabalhar para o cliente tende a ganhar competitividade e fidelidade”, enfatiza.

Para os analistas consultados, a pior atitude, neste momento, é ficar parado. “A cultura da crise é a sobrevivência. Não adianta ficar esperando a crise passar, as reformas serem aprovadas e o juro cair. A empresa irá falir antes disso”, conclui Queiroz.

O número de empresas que fecham suas portas cresce sem parar: a mortalidade saltou de 9.736 em 1996 para 45 mil em 2002. Este ano, o número de falências em São Paulo já chega a 17.951. O número de inativas já soma 2,7 milhões este ano. Para evitar essa mortalidade, especialistas recomendam que as empresas se adaptem às necessidades do consumidor, optando até pela redução de preços.

Priscilla Negrão

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