Decepcionado, Robinho conversou com os pais, Marina e Gilvan, a namorada, Vivian, e o empresário, Wagner Ribeiro, por telefone, inconformado com o drama que está vivendo às vésperas de um jogo decisivo de Copa do Mundo, justamente no momento em que parecia ter conquistado a posição de titular.
Sentiu-se ainda mais triste ontem. No sábado, apesar das dores na perna direita, o atleta achou que se recuperaria depois de uma boa noite de sono. Não foi, porém, o que ocorreu. Acordou ainda com dores e percebeu que será difícl enfrentar Gana. “Ele sente dor na hora de flexionar a perna direita”, detalhou José Luiz Runco, chefe do departamento médico da Seleção.
Robinho passou o domingo fazendo tratamento com gelo e exercícios em aparelhos, além do relaxamento na piscina. E, hoje, irá a uma clínica, provavelmente em Colônia, para submeter-se a um exame de ressonância magnética que dará a verdadeira extensão da lesão na coxa – “no músculo do chute”, como definiu o médico numa conversa com os jornalistas.
“Ele está chateado, muito abatido, principalmente por causa de um momento especial como esse da Copa do Mundo”, contou o volante Zé Roberto. “Todos ficaram tristes. Neste momento, nós temos de dar força ao Robinho” – acrescentou outro volante, Emerson.
“Nós o avaliamos antes do treino, ele teve melhora, mas ainda sente dor”, revelou o doutor Runco, que tratou de dar alguma esperança aos torcedores neste domingo, ao informar que ainda não descarta a possibilidade de Robinho atuar na partida de amanhã. O médico prefere esperar os exames desta segunda antes de qualquer decisão, mas pessoas ligadas ao jogador garantem que ele está fora do jogo contra Gana. “Tenho 20 anos de futebol, não há como ele se recuperar a tempo”, entregou o lateral-esquerdo Roberto Carlos.
A estratégia do técnico Carlos Alberto Parreira de fazer mistério sobre a escalação ganhou, assim, um novo ingrediente. Embora ele não tenha confirmado, quase toda a imprensa esportiva dava como certa a permanência de Robinho ao lado de Ronaldo no ataque. Após a lesão do jogador, as dúvidas se multiplicaram: há quem ache que Adriano ganhará mais uma oportunidade e quem dê como certo a entrada de Juninho Pernambucano como meia, ao lado de Kaká, indo Ronaldinho Gaúcho para o ataque.
O mistério mexe com os jogadores, mesmo os mais experientes e acostumados à pressão. Enquanto uns acham que pode ser positivo criar mais confusão para os adversários, outros se mostram apreensivos. “A apreensão existe porque todos querem jogar. Eu me sentiria mais à vontade se soubesse quem vai jogar, mas temos de respeitar a opinião de Parreira se ele acha que é melhor fazer esse mistério”, disse Zé Roberto, titular nos dois primeiros jogos, que entrou no segundo tempo contra o Japão.
Desde aquele jogo, Parreira decidiu informar qual é o time titular apenas no dia da partida, diferentemente do que vinha fazendo na fase de preparação da equipe. Ele mesmo afirmou, antes de chegar à Alemanha, que já tinha sua equipe titular em mente desde o fim do ano passado.
O mistério pode ser positivo para “deixar os jogadores ligados”, diz Roberto Carlos. “Essa é uma situação nova na Seleção. Pode ser bom para causar uma certa inquietação emotiva nos jogadores. Claro, se o técnico nos disser com um dia de antecedência quem jogará, também seria bom, até para que possamos dormir tranqüilos”, comenta o lateral, acostumado a viver suspense igual no Real Madrid.
Emerson, da Juventus, conta que esse suspense não ocorre em seu clube e que o time que treina é, normalmente, o que joga como titular. Ele pode até perder a posição para Gilberto Silva, outro destaque na vitória sobre os japoneses, mas garante que não se abaterá se for colocado no banco.
Na verdade, nem todos receberam bem a notícia de que não jogariam contra o Japão. Adriano, que foi substituído por Robinho, deixou de falar com a imprensa desde então e anda de cara fechada. “Ele sempre chegou a um time sabendo que ia jogar. Como isso mudou na Seleção, pode ser que a notícia o tenha pegado de surpresa”, disse Zé Roberto. Juan é mais diplomático: “Sabemos que qualquer um pode entrar sem afetar qualidade do time.” E também mais pragmático: “O importante é que sabemos o esquema que jogamos. Os nomes são detalhes”.
Em meio a tantas dúvidas, Ronaldo é só certeza. Sabe que estará em campo – tendo, como parceiro de ataque, Robinho ou Adriano ou Ronaldinho Gaúcho, outro titular intocável que só não sabe ainda em que posição vai jogar. Embora não seja muito chegado à superstição, Ronaldo já decidiu usar até o fim da participação do Brasil na Copa o par de chuteiras amarelas que estreou na vitória contra o Japão. O calçado lhe trouxe sorte, pois nessa partida marcou seus dois primeiros gols na competição, igualou recorde histórico de Gerd Müller e foi escolhido como melhor em campo. Sem contar que lhe caiu confortavelmente nos pés. Bolhas? Nem pensar: “As chuteiras são do mesmo modelo que tenho usado”, revelou ontem. “Mudou a cor, mas o amarelo me deu sorte e fico com ela até o fim.”
Nem tudo é só mistério e drama no Castelo Lerbarch, em Bergisch Gladbach.