ACE-Guarulhos

Micro e pequena fogem de bancos

A maioria (64%) dos micro e pequenos empresários nunca tentou obter recursos financeiros junto a bancos, embora grande parte (57%) reclame de muitas dificuldades financeiras.

Quando precisa de dinheiro, o empresário prefere tirar do próprio bolso (em 49% dos casos) ou utilizar o cheque pré-datado (20%) e cheque especial (9%), instrumentos de crédito em que os bancos praticam algumas das maiores taxas de juros do mercado. As informações e os números fazem parte de pesquisa realizada numa parceria entre o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Os pesquisadores ouviram 2.500 empreendedores de micro e pequenas empresas das cinco regiões do País. A média dos pedidos de empréstimo varia entre R$ 5 mil e R$ 100 mil.

De acordo com a pesquisa, o empresário acredita que é fundamental ter um bom relacionamento com o gerente do banco (54%) para obter um financiamento, superior aos que acreditam que uma ficha cadastral boa é a principal razão (51%) para o êxito em obter um empréstimo. A burocracia foi citada por 51% como uma das principais dificuldades entre os que conseguiram um empréstimo, sendo que 46% levantaram o excesso de exigências (muita documentação, necessidade de fiador, ter imóvel ou dinheiro como garantia) como um dos entraves. Apenas 24% de pequenos e micro empresários ouvidos alegaram não ter dificuldades para levantar recursos junto às instituições financeiras.

Entre os empreendedores que reclamaram de dificuldades financeiras, a porcentagem aumenta à medida em que decresce o nível de educação formal: 78% para os menos escolarizados e 41% para aqueles que possuem pós-graduação. A idade também parece ser um fator relevante: 78% dos empresários com mais de 60 anos alegam sofrer dificuldades financeiras enquanto somente 36% dos empreendedores com idade entre 18 e 30 anos disseram o mesmo.

A pesquisa mostra um dado curioso: apesar da grande maioria (64%) dos pequenos e micro empresários ter reconhecido que nunca tentou obter um empréstimo, entre os que se arriscaram (36%), a porcentagem dos que conseguiram (23%) é maior do que os empreendedores que voltaram de “mãos abanando” (13%). Também nesse caso ser escolarizado parece concorrer para o sucesso da empreitada. Os empresários que possuem um nível maior de escolaridade solicitam mais vezes empréstimos e têm sucesso mais vezes.

Os empresários que conseguiram empréstimos usaram, principalmente, para capital de giro (48%), pagamentos de dívidas (36%), compras (25%), ampliação e contratação (14%) e financiamento de equipamentos (12%).

No grupo dos empresários que nunca tentaram obter um empréstimo, um total de 35% justificaram não precisar por nunca ter atravessado uma crise financeira. Outros 35% preferiram usar recursos próprios e 30% temeram não poder saldar o empréstimo. A burocracia foi a razão alegada por 12% dos homens de negócios. Luiz Ricardo Grecco, consultor da Unidade de Crédito do Sebrae-SP, comenta que uma possível explicação para esse quadro passa por duas constatações. Primeiro, o microempresário freqüentemente não possui um controle gerencial nos moldes exigidos pelo banco – é a idéia de que “microempresa não tem balanço” para apresentar. Em segundo lugar, a constatação de que o acesso ao cheque especial é mais fácil e imediato para o empresário do que obter uma linha de crédito mais “conveniente” para a finalidade do empréstimo. Grecco também lembra a falta de informações do pequeno empreendedor sobre o processo de aprovação do crédito num banco.

Epaminondas Neto

Sair da versão mobile