Mercado se prepara para dias de oscilação
O mercado financeiro tem pela frente mais uma semana difícil. Depois da recomendação da Merrill Lynch para seus clientes reduzirem investimentos em países emergentes, a preocupação é com a divulgação de indicadores de inflação e, outra vez, com o noticiário político, que podem se traduzir em mais oscilação para o mercado. Para a bolsa paulista, o desafio para essa semana é ainda maior: além de digerir os resultados dos indicadores apresentados, ela tentará interromper a trajetória de queda presente em todos os pregões da semana passada.
As perdas somaram 7,3%. O desafio não é fácil. Uma recuperação dos negócios depende ainda da divulgação de nova pesquisa sobre a corrida eleitoral, marcada para esta segunda-feira. Caso o candidato do governo, José Serra, seja confirmado para o segundo turno, a expectativa é boa. Do contrário, podem ocorrer mais perdas. Isso porque, ao menor sinal de que não haverá continuidade do governo de Fernando Henrique, os investidores estrangeiros tiram o dinheiro do País. A demora na aprovação do projeto que prorroga a cobrança da CPMF até 2004 e isenta as operações em bolsa do tributo também tem tudo para provocar queda nos negócios, principalmente nos de bolsa. É que o texto continua parado na Câmara. E, como esta é uma semana mais curta, em decorrência do feriado na sexta-feira, as chances de o projeto ir para o Senado são ainda menores.
Deterioração – Os negócios deverão se balizar ainda pela divulgação de dois importantes índices de inflação: o IGPM do IBGE e a terceira prévia do IPC da Fipe. “Na semana passada houve deterioração dos indicadores de inflação, por conta do aumento da gasolina e do gás de cozinha. Só este último deverá ter um impacto de 0,25 pontos sobre a inflação de abril, que deverá ficar acima de 0,6%”, diz Luís Alberto Rabi, economista-chefe do BicBanco. A boa notícia é que o Brasil aguarda uma safra agrícola recorde: de 100,5 milhões de toneladas de grãos, que já começa a ser colhida em algumas regiões do País, e que deverá contribuir para um peso menor dos preços de alimentos sobre os índices de inflação.
Argentina – A Argentina, que havia deixado de preocupar o Brasil, voltou à cena. Na sexta-feira, o risco-país ultrapassou os cinco mil pontos, provocando uma alta, ainda que pequena, do risco-Brasil, que mantinha-se comportado (subiu de 700 para 730 pontos). O câmbio também sentiu a pressão e fechou em alta de 0,90%, com a moeda americana sendo cotada a R$ 2,364 na venda. “O Brasil já conseguiu se descolar da Argentina, mas uma piora por lá sempre têm respingos aqui, mesmo que pequenos, como têm sido agora”, diz o economista Emílio Alfieri, da Associação Comercial de São Paulo.
Adriana Gavaça