A assinatura pelo presidente George W. Bush da nova lei agrícola, a Farm Bill, caiu como mais uma ducha de água fria na Organização Mundial de Comércio (OMC), onde negociadores de 144 países tentam, em meio à guerra protecionista do aço, manter o ânimo das negociações da rodada de Doha. Lançada em novembro numa reunião no Catar, a rodada pretende liberalizar o comércio mundial em janeiro de 2005. A abertura do mercado agrícola foi uma das principais promessas do encontro. Agora, muitos na OMC duvidam que a rodada vá conseguir chegar a um acordo no prazo previsto.
” Isso pode complicar a rodada ” admitiu o embaixador da União Européia na OMC, Carlos Trojan.
Mark Vaile, ministro do Comércio da Austrália, um dos 18 países do grupo de exportadores agrícolas, disse que a nova lei americana possivelmente vai mudar a atmosfera nas negociações. Ele e praticamente todos os embaixadores do grupo de Cairns ” entre eles, o do Brasil, Luiz Felipe Macedo Soares ” reuniram-se ontem. O grupo decidiu divulgar hoje um protesto oficial e esperará a reação de Washington:
– Estamos preocupados com a deterioração do clima internacional desde a reunião de Doha ” disse Vaile.
Ele disse ainda que seu país não apenas está preocupado com a Farm Bill e as medidas protecionistas contra o aço, como também com o fato de Bush não ter conseguido o fast-track até agora.
O grupo de Cairns, segundo fontes, espera usar a Farm Bill para pressionar o governo Bush a tomar uma atitude mais agressiva contra as barreiras agrícolas da Europa durante a rodada. A UE, tradicionalmente protecionista e que até então era o grande alvo de críticas da OMC, agora ficou na posição ideal: seu grande crítico, os EUA, perdeu moral para cobrar o fim dos subsídios europeus. Mas será praticamente impossível questionar a nova lei na OMC, pois serão necessários pelo menos três anos para saber se o aumento de subsídios ultrapassa ou não o limite com o qual o país se comprometeu no atual acordo agrícola.
Deborah Berlinck