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Liquidações já envolvem todos os setores do varejo

Guarulhos, 14 de janeiro de 2003

As tradicionais queimas de estoque em janeiro já não são exclusividade das redes de eletrodomésticos e grandes magazines. Aos poucos, diferentes segmentos do varejo vão descobrindo que o consumidor só decide gastar no começo do ano se tiver bons motivos para isso. Nas lojas de roupas, o calor mal começou e as promoções de verão já estão na praça.

O varejo está apostando forte nas vendas durante o mês de janeiro. E não são apenas as lojas de eletroeletrônicos, móveis e supermercados que estão em liquidação. No comércio de vestuário, as altas temperaturas de janeiro mal começaram e já estão sendo feitas promoções de verão. O período é tradicionalmente fraco para o setor por conta do pagamento de impostos pelos consumidores nessa época do ano, como IPTU e IPVA. As férias escolares diminuem o fluxo de consumidores nas lojas. A ordem, portanto, é mesmo baixar os preços antes de fevereiro. E em todos os setores.

Para o economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Emílio Alfieri, o endividamento da população também está ligado ao exagero nas compras de final de ano. Tendo muitas contas para pagar, o consumo se inibe em janeiro. “Com as duplicatas vencendo, o lojista tem duas opções: liquidar os estoques para fazer caixa ou tomar empréstimo”, explica o economista. De acordo com números da ACSP, até o dia 25 de dezembro o comércio paulistano apresentou queda de 3,2% comparado com as vendas do mesmo período de 2001. Para Alfieri, uma das razões para o Natal ter ficado abaixo das expectativas foi o aumento da taxa Selic em três pontos, passando de 22% para 25%, o que impactou negativamente nas vendas. “As empresas não repassaram os custos para o produto final, mas houve efeito psicológico”, afirma o economista.

Supermercados – Para o presidente da Associação Paulista de Supermercados (Apas), Sussumu Honda, o aumento da Selic nos últimos três meses do ano passado não foi determinante para o recuo das vendas. “Os juros foram diluídos nas prestações,” diz ele.

Preços – Para Honda, não dá para manter os estoques com a taxa de juros tão alta. E é aí que entram as liquidações. O supermercadista afirma que, durante as promoções, a queda de preço é bem maior nos produtos sazonais do que nos bens duráveis. A compensação do lucro é feita com a venda desses produtos. Há supermercados, por exemplo, que vendem muito mais panetone depois do Natal que antes do dia 24 de dezembro.

Vestuário – No caso das roupas, o economista da ACSP acredita também que, por conta do início do governo Lula, alguns lojistas podem ter feito um reajuste “preventivo” nos preços de vestuário. Com o dólar em alta e o medo do futuro governo nacional, os produtos receberam um sobrepreço por precaução, para evitar alguma surpresa indesejável. Agora o comércio está percebendo que a situação não está tão ruim e já começa a fazer promoções nas lojas.

Calendário – Segundo Alfieri, o calendário também justifica a realização das liquidações em janeiro. Por precaução, os consumidores guardam dinheiro para o Carnaval e para a compra de material escolar em fevereiro. E precisam de preços baixos para comprar no primeiro mês do ano. Nesse contexto, quem já está fazendo liquidação de roupa de verão está no caminho certo: o comerciante que deixar para liquidar mercadoria só depois do Carnaval vai perder muito porque toda concorrência já fez suas queimas de estoque. A opinião não é a mesma dos lojistas que vão participar da tradicional liquidação organizada pelo Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), o Liquida SP, este ano batizado de Liquida Estado de São Paulo. O evento, que este ano terá a participação de shoppings do interior, será realizado entre os dias 22 de fevereiro e 2 de março.

Mudança – No ano passado, o evento foi no fim de janeiro. Para o presidente da Alshop, Nabil Sahyoun, as liquidações de verão deveriam ser realizadas somente em março, com a coleção de inverno nas prateleiras das lojas em abril. A entidade pretende negociar com a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e Confecção (Abit) a mudança do calendário de início das entregas de coleções. “Em março ainda está muito quente. Aliás, já temos pouco inverno no Brasil”, explica Sahyoun. Para Alfieri, os lojistas devem ser cautelosos com as compras de inverno. O economista lembra que no ano passado tivemos pouco frio em relação às temperaturas dos cinco anos anteriores.

Adriana David