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Leilão derruba preço de pedágios

Guarulhos, 10 de outubro de 2007

O resultado do leilão de concessão de sete trechos em rodovias federais, realizado ontem na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), vai provocar forte questionamento em relação aos contratos em andamento no País, principalmente no Estado de São Paulo. Também colocará em destaque a segunda etapa de concessões paulistas, que incluirá rodovias como Carvalho Pinto, Trabalhadores e o Rodoanel.

“Já havia um clamor em relação aos altos preços dos pedágios. Agora, deverá haver maior pressão política para que seja aberto um processo de renegociação das tarifas atuais”, disse o presidente da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística), Geraldo Vianna. Para ele, o governo de São Paulo “terá de rediscutir suas propostas” – pelas informações divulgadas, os preços cogitados para as praças de pedágio do Rodoanel, por exemplo, estariam nos mesmos níveis dos cobrados atualmente. 
Segundo Vianna, em sistemas como o Anhangüera/Bandeirantes, por exemplo, o custo do pedágio é de R$ 0,12 por quilômetro. Os valores apresentados ontem pelos vencedores ficaram na casa de R$ 0,02, segundo cálculos preliminares da entidade. “Isso confirma o que dizíamos: é possível cobrar mais barato pelo uso das estradas.”

A campeã – A espanhola OHL foi a grande vencedora do leilão. Arrematou cinco dos sete trechos e passou a deter a maior malha de concessão rodoviária do País – cerca de 3.225 quilômetros de estradas pedagiadas, com importantes interligações entre os Estados de Minas Gerais, São Paulo, Paraná, e Santa Catarina, no chamado Corredor Mercosul. Com isso, passou o grupo CCR, que hoje detém a concessão de 1.452 km de rodovias. No ranking de volume de tráfego e receita, ficará em segundo lugar, atrás da CCR.

Centro das atenções, o presidente da OHL no Brasil, José Carlos Ferreira de Oliveira, respondeu às provocações em relação aos lances extremamente baixos dados pela empresa dizendo se tratar “de política de perdedor”. Segundo ele, há anos a companhia estuda os trechos ofertados no leilão e, por isso, teve condições de ser mais agressiva. Oliveira afirmou que a OHL deverá usar recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para fazer os investimentos.

O leilão foi suspenso durante 40 minutos por decisão judicial. Entrava em cena mais uma espanhola, a Acciona, que levaria o último lote do leilão, a BR-393. A empresa recorreu à Justiça por ter sido desqualificada na segunda-feira por causa de uma confusão na entrega de documentos. Para levar adiante a disputa, a Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT) verificou os envelopes, encontrou o papel e prosseguiu o leilão com a participação da espanhola.

Na volta da paralisação, a BRVias arrematou a BR-153, a chamada Rodovia Transbrasiliana, já que a OHL não havia feito proposta para o trecho. A empresa brasileira é um consórcio formado pela Splice (do empresário Antonio Beldi), Áurea (da família Constantino, da Gol) e Walter Torre.

Disputa – Apesar do resultado, concentrado em três companhias, o leilão foi muito disputado. Teve a presença de 30 empresas, que fizeram propostas com deságio médio de 45%. Os lances variaram de R$ 0,997 a R$ 3,865. No total, a concessão criará 36 novos pedágios no País. Mas o usuário ainda terá algum tempo para começar a pagar. A expectativa é de a cobrança de pedágios começar em meados de 2008. Em janeiro, as empresas assinam contrato e terão seis meses para adequar as estradas a padrões mínimos de qualidade, que exigirão investimentos de R$ 250 milhões.

A partir de agora, a concessão de rodovias federais embutirá rentabilidade menor do que os sete trechos leiloados ontem. “Hoje, a taxa de retorno de 8,95% ao ano passou a ser teto”, disse o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, que não escondia sua satisfação com a disputa acirrada entre as concessionárias.