O pico das vendas de material escolar ainda está para ocorrer. A expectativa do comércio é de que o movimento seja mais intenso neste sábado e se prolongue até a véspera do Carnaval. Com base na demanda observada desde o Natal, alguns comerciantes da capital paulista estimam crescimento de 10% no volume de vendas, em relação ao período de volta às aulas 2005/06 – de dezembro a fevereiro. Existem 25 mil papelarias no Brasil e só a venda de material escolar, o que não inclui produtos de informática, movimenta R$ 4,5 bilhões ao ano.
“Se eu fechar todo o período com um crescimento de 10%, será ótimo”, diz o proprietário da Farah´s Papelaria, Luiz Carlos Farah. Se isso ocorrer, o funcionário contratado por conta da volta às aulas será efetivado, diz o comerciante, dono de duas lojas no centro de São Paulo, das quais a primeira foi aberta há 35 anos.
No Brasil, segundo especialistas do ramo, a papelaria que não se redesenhou, morreu. Na mesma linha da maioria dos sobreviventes, Farah ampliou a oferta de produtos, com suplementos de informática e artigos para escritório. Ao todo, são 2.700 itens, de 200 fornecedores. Nesta época, o material escolar é o carro-chefe das vendas, com faturamento mensal 35% superior ao registrado nos demais meses. “Há cerca de dez anos, crescia 100%”, compara Farah. Os kits fornecidos gratuitamente aos alunos da rede pública são apontados como uma das causas do recuo das papelarias, além da concorrência dos hipermercados.
Delivery – Quem sobreviveu no ramo, como Farah, procura cativar a clientela. O atendimento personalizado é um dos diferenciais importantes. A Farah´s Papelaria recebe as listas de material por fax ou e-mail e oferece serviço de entrega – no escritório, no estacionamento e, dependendo do volume comprado, até na residência do consumidor. “Meu público é variado. São executivos, senhoras que trabalham nas diretorias dos bancos e não têm tempo de vir à loja, além de pessoas empregadas no comércio.”
Farah observa mudanças nos hábitos dessa clientela. A venda de material escolar, até há poucos anos, concentrava-se nos dias que antecediam o Carnaval. “Chegava a formar fila para atendimento.” Hoje, essas vendas estão mais diluídas, de dezembro até março. O empresário analisa que, com a estabilidade da moeda, as pessoas podem ter um orçamento mais programado. Para o comércio é bom, especialmente porque dezembro é um período de vendas fracas para o ramo das papelarias.
Na Brasil Escolar, associação com cerca de 600 papelarias, também há expectativa de vendas mais intensas de material escolar até o Carnaval. “Não há uma euforia de compra, mas há um movimento constante”, comenta o porta-voz da entidade, Said Tayar. Com base nas “reações” entre os associados, ele projeta crescimento de 10% no volume de vendas comparado com a volta às aulas do ano passado.
As afiliadas à Brasil Escolar operam com independência, mas valem-se do associativismo para ganhar poder nas negociações com fornecedores e para compartilhar informações relacionadas à operação e gestão do negócio.
Com 26 anos de atuação nesse ramo, o fundador da Papelaria Aliança, no bairro do Limão, Sidiney Patriani Fusco, faz parte desse grupo. Ele estima que suas vendas de janeiro, de ítens escolares, cresceram 10% sobre igual período de 2006. “Até com os outros ítens eu devo crescer mais, porque ampliei a loja e o mix de produtos”, justifica. Na linha escolar, segundo ele, só em estojos há opção de 100 modelos.
Fusco acredita que a venda dos itens escolares possa se prolongar até depois do dia 20 de fevereiro, pelo fato de o Carnaval, neste ano, ocorrer “muito cedo. Fevereiro, em geral, é o mês de maior venda de material escolar”.
Recuo – Na distribuidora Desart, que abastece atacadistas e varejistas do ramo, o período de volta às aulas não redundará em aumento de vendas, ao contrário do crescimento em torno de 50%, re-gistrado pela empresa nos últimos anos. “Mas é um recuo estratégico”, explica seu diretor geral, Victor Leon Ades. Com 33 anos de mercado, a Desart distribui produtos importados e neste ano decidiu não sacrificar o capital de giro.