Juro Mantido em 21% ao ano exigirá criatividade e velocidade do varejo
O Comitê de Política Monetária, Copom, decidiu nesta quarta (23) manter a taxa básica daeconomia, a Selic, em 21 % ao ano, em adoção de viés, após reunião de dois dias.
A decisão não surpreendeu o mercado, que já trabalhava com a expectativa de manutenção da Selic. “O aumento de três pontos porcentuais na reunião extraordinária do Comitê, na semana passada, já era grande o bastante para conter a pressão sobre a inflação”, diz Keyler Carvalho Rocha, diretor-técnico da seção paulista do Instituto Brasileiro dos Executivos de Finanças, Ibef.
Para o executivo, além do aumento da semana passada, não surgiu nenhum fato novo negativo que justificasse mais um aumento dos juros em tão pouco espaço de tempo.
Efeitos – O economista Emílio Alfieri, da Associação Comercial de São Paulo, diz que para o comércio a notícia de manutenção da Selic será recebida com alívio. Isso porque, explica, o aumento de três pontos das porcentuais da taxa básica, na última semana, já havia provocado uma reversão na tendência de crescimento das vendas.
Na primeira quinzena do mês, as consultas ao Serviço Central de Proteção ao Crédito, SCPC, da Associação Comercial, que sinalizam as vendas feitas a prazo, apresentavam crescimento de 7,7%,em comparação com igual período doano anterior.
O ritmo de crescimento das consultas ao SCPC, no entanto, caiu para 3%, do dia 1º aodia 22. “Isso mostra que a Selic, mesmo não tendo sido repassada para o crediário, já provocou uma retração nos consumidores”, explica Alfieri.
Aumento – Em contrapartida, as consultas ao Usecheque, da Associação Comercial, acionado em casos de compras a vista, registravam aumento de l,9% na primeira quinzena de outubro, em relação a igual período de 2001, e passou para 3,7% de aumento até o último dia 22. “É um sinalizador de que o consumidor está preferindo comprar bens de menor valor a vista”, diz Alfieri. O desempenho das vendas até o final do ano, porém, ainda depende do desfecho da eleição presidencial neste final de semana.
Possível melhora -De acordo com Alfieri, dependendo dos nomes anunciados pelo novo presidente para fazer parte da equipe econômica poderá haver uma melhora nos indicadores internos da economia. “O câmbio e o riscopaís poderiam declinar, abrindo espaço para uma redução dos juros”, diz.
Na opinião do economista, ao primeirosinal de melhora nos indicadores daeconomia, o Banco Central deve retomar a trajetória de queda da Selic. “Senão ele corre o risco de perder de novo uma boa oportunidade de baixar os juros, como no no início do ano”.
Cenário externo – O economista-chefe do ABN Amro Asset Management, Hugo Penteado, acredita que não é só a eleição que vem provocando turbulência na economia brasileira. Ele lembra que o cenário externo tem se mostrado desfavorável nos últimos meses e que, por isso, mesmo após a eleição, o espaço para uma redução dos juros pode continuar restrito.
O economista trabalha, inclusive, com a possibilidade de a Selic finalizar o ano no patamar atual, de 21%.” Uma mudança de patamar irá depender de uma melhora sensível no cenário interno e externo e só temos dois meses até o final do ano”,explica. O Copom volta areunir nos dias 19 e 20 de novembro.
Adriana Gavaça