Juro elevou despesas das empresas
Foram recordes consecutivos em 2003. As empresas brasileiras de capital aberto (com ações em Bolsa) acumularam, em 2003, o maior lucro já registrado pelo setor produtivo até hoje. Também dobrou o número de companhias com lucro superior a R$ 1 bilhão no Brasil, e a relação entre dívida e lucro atingiu o mais baixo patamar desde 1997. Os indicadores de despesa, porém, derraparam.
As companhias ainda gastaram muito dinheiro pagando juros, o que elevou a chamada despesa financeira com juros. Levantamento da Folha mostra que metade das companhias incluídas na lista das dez maiores empresas do país gastou mais com juros em 2003 do que em 2002.
A recente redução, a partir de junho de 2003, da taxa Selic (juros que norteiam as operações de crédito do setor privado e estão em 16,25% ao ano) pouco aliviou a pressão sobre as contas dos grupos. Tanto que companhias de primeira linha (como Sadia, Usiminas, Telemar, Gerdau e Pão de Açúcar) tiveram elevação nesse custo em seus balanços anuais.
“Os juros estão caindo agora, mas atingiram um nível altíssimo durante o ano”, diz Luiz Murat, diretor de relações com o mercado da Sadia. No ano passado, a taxa Selic média fechou em 23,25%. Em 2002, porém, ficou em 19,11%.
Diante desse cenário, a despesa financeira líquida do grupo Pão de Açúcar, por exemplo, chegou a R$ 184,8 milhões em 2003 – em 2002 foram R$ 162,9 milhões. Na Gerdau, o montante cresceu R$ 132,5 milhões no período.
Caixa recheado
Foram analisados dados de 118 empresas (excluindo Petrobras, Eletrobrás e bancos, com lucros bilionários e que podem “desviar” a amostra).
Entraram no estudo apenas companhias que publicaram os números em todos os últimos cinco anos, pelo menos. Os resultados foram deflacionados (pelo IGP-DI). A Folha realizou o levantamento com base em dados captados na página da consultoria Economática na internet. Cerca de metade das companhias abertas no país integram o estudo.
Os impactos desse aumento nas despesas com juros não chegaram a contaminar os resultados finais.
O lucro líquido em 2003 atingiu R$ 26,4 bilhões – 1.070% superior ao de 2002 (R$ 2,2 bilhões) e o maior da história das empresas abertas na Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo).
Se em 2002 só três empresas superaram a barreira do R$ 1 bilhão em lucro, no ano passado sete atingiram esse patamar: AmBev, Gerdau, Klabin, Telesp, Usiminas, Vale do Rio Doce e CSN.
A receita líquida operacional (recurso obtido com a operação principal da empresa) também disparou, com volume que quase chegou a R$ 337 bilhões em 2003.
Os fatores que explicam os bons resultados das empresas têm relação direta com o alto volume de exportações alcançado no ano passado pelas companhias dos setores de mineração, siderurgia e papel e celulose. “A recuperação econômica de certos parceiros do país lá fora e a melhora no preço de produtos que o Brasil exporta ajudaram”, diz Alexandre Póvoa, economista do banco Modal.
Além disso, a redução da dívida em moeda estrangeira (por causa da queda de 18% do dólar em 2003) diminuiu o custo financeiro de captação dos grupos. Mais de 70% das dívidas de empresas no país estão em moeda estrangeira.
Adriana Mattos