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Jovens levam videogames para dentro das fábricas

Guarulhos, 22 de maio de 2002

A habilidade com controles adquirida durante horas diante dos videogames está se tornando uma vantagem para que jovens iniciem a carreira em funções valorizadas pelas empresas. Os novatos têm em comum a intimidade com jogos eletrônicos e a capacidade de realizar com rapidez tarefas complexas, como a programação de um robô. A unidade da Volkswagen em Taubaté já conta com 24 rapazes da “geração videogame” na linha de montagem.

Leandro Nishikawa é um dos veteranos na área de manutenção de robôs da fábrica de Taubaté: tem 22 anos e desde 1997 trabalha na Volks. Ele fez curso técnico no Senai e faz faculdade de Engenharia Elétrica e Eletrônica.

A adaptação de Nishikawa ao universo da robótica empregada na linha de montagem foi rápida e sem grandes dificuldades. As horas gastas durante a adolescência diante do videogame ajudaram nesse processo.

“O videogame ajudou a desenvolver coordenação motora, a fazer com velocidade movimentos precisos e ainda concentrado em diversas variáveis”, descreve Nishikawa. A diferença é que na fábrica, em vez de pontos e vidas, está em jogo a qualidade dos produtos. “O game é virtual, mas aqui a gente mexe com uma máquina de verdade.” Durante a manutenção, o técnico analisa peças, troca placas e programa os robôs que fazem soldas e transportes.

A habilidade com videogames faz diferença no momento em que é feita a programação. Os operadores têm de indicar o movimento que será feito pela máquina, através de um joystick. “Essa operação tem de ser rápida e precisa, como se fosse para concluir uma jogada”, afirma Evandro Botossi Analio, que tem 18 anos e dois de Volks.

Analio também estudou no Senai e começou a trabalhar como eletricista. Há um ano ele passou para a área de eletrônica, onde faz manutenção de robôs. Para mudar de posto, pesaram a facilidade para aprender a função e o fato de Analio estar estudando Engenharia de Telecomunicações. Com a faculdade, o técnico pretende direcionar a carreira para automação.

Menos tempo para jogar

O primeiro videogame de Analio foi um Dactar. Hoje ele tem um Playstation, em que nas poucas horas vagas faz corridas virtuais. “Com o trabalho e a faculdade sobra pouco tempo para o videogame. Normalmente me reúno com amigos para jogar na sexta-feira à tarde.” O mesmo aconteceu com Nishikawa, que deu seu Megadrive para um parente.

O técnico José Cândido Novaes Pinheiro Neto, 18, prefere jogar no computador. Ele ganhou a primeira máquina com 12 anos e virou um fã de jogos de estratégia. “Isso me ajudou a desenvolver um raciocínio mais rápido, o que ajuda na hora de programar um robô.”

A parceria entre a Volks e o Senai, que está dando formação técnica à nova geração, existe desde 1979. De lá para cá, o perfil dos funcionários mudou na mesma velocidade com que as linhas de montagem foram modernizadas. “A evolução fora da fábrica fez com que mais pessoas tivessem acesso a tecnologias que deram aos jovens novas habilidades. Eles têm muita facilidade para, por exemplo, entender a lógica de programação”, revela Marco Aurélio de Castro, gerente de administração desenvolvimento de pessoal da Volks-Taubaté.

Os funcionários mais antigos, segundo Castro, tinham mais dificuldade para usar o joystick. “Eles tinham de escrever o movimento na forma de um programa, o que levava mais tempo.”

GUIDO ORGIS