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Investimentos em dólar exige cuidado

Quem tem dívidas em dólar ou compromissos futuros na moeda americana (como os planos de uma viagem) costuma considerar os fundos cambiais o destino certo e garantido para o seu dinheiro. Mas, muito cuidado. Antes de proteger o patrimônio em uma aplicação atrelada ao câmbio, é bom saber que existe o risco de ela não refletir exatamente as variações da moeda, sejam elas para cima ou para baixo.

Prova disso é o resultado de julho da indústria de fundos. Enquanto o dólar valorizou-se em 23,05% no mês, no mesmo período, os fundos cambiais renderam apenas 7,73%, três vezes menos que o seu parâmetro de rentabilidade. Mas, por que isso acontece?

Aplicação é considerada de risco, dizem os analistas. Ao contrário do que muita gente pensa, os fundos cambiais não investem em dólar à vista, no chamado dólar comercial, mas sim em operações financeiras que procuram refletir a variação da moeda.

Os fundos podem aplicar recursos em títulos cambiais (que rendem a variação do dólar mais uma taxa de juros), em contratos futuros de dólar (que projetam a cotação da moeda em determinado período) ou em contratos futuros de juros em dólar (o chamado cupom cambial).

Em julho, o nervosismo do mercado fez com que as taxas de juros em dólar disparassem. Com a atualização diária das cotas dos fundos, foi preciso ajustar a cotação de suas carteiras à variação de mercado. Em meio a tanta volatilidade, os contratos de juros em dólar deram prejuízos. E, com isso, no total da carteira, os fundos cambiais renderam bem menos do que o dólar.

Os contratos futuros de dólar (outra operação na qual os fundos cambiais aplicam) também distorções. No auge da turbulência financeira, a pressão maior foi sobre o dólar à vista, porque havia escassez da moeda americana no mercado. Com isso, as cotações do dólar comercial ficaram acima do dólar futuro. E, com isso, a rentabilidade dos fundos cambiais ficou prejudicada.

Francisco Corrêa da Costa, sócio da GAP Asset Management, lembra que, no momento de maior estresse, quando o dólar comercial chegou a R$ 3,60, os contratos futuros com vencimento em setembro ainda eram negociados a R$ 3,30, comprovando a distorção.

– Não há proteção integral do patrimônio em dólares, principalmente no mercado atual, extremamente nervoso por conta das eleições – diz Renato Ramos, diretor de renda fixa do HSBC Asset Management.

Para Alexandre Chaia, professor do Ibmec-SP e sócio da consultoria Risconsult, o problema está na maneira como estes fundos são vendidos no mercado.

– Alguns gestores dão a impressão de que o fundo acompanha apenas a variação cambial, o que cria uma sensação de proteção irreal – diz.

Segundo Costa, da GAP, para se proteger, o investidor deve se informar sobre a política do fundo e ficar atento ao vencimento dos títulos e contratos que integram a sua carteira.

– Quanto mais de curto prazo os vencimentos, maior a proteção para o investidor. Quanto maior o prazo, maior também o risco de que o fundo não reflita a variação do dólar. Títulos de prazo mais longo significam indefinição de cenário por mais tempo e mais oscilação de rentabilidade – esclarece.

Segundo os analistas, também é preciso ter em mente a aplicação em fundos cambiais é considerada de risco, portanto, sujeita a oscilações que tendem a ser diluídas apenas a longo prazo.

– Até que a turbulência passe, quem quiser um fundo aderente ao câmbio deve buscar os que têm títulos de curto prazo. Mas, quanto maior o prazo, maior a chance de retorno a longo prazo. O investidor tem que saber se está disposto a sujeitar-se às oscilações – diz Marcelo Saddi Castro, diretor de renda fixa do BNP Paribas.

Para os investidores que já sofreram com ganhos menores, os analistas recomendam manter o dinheiro aplicado. Segundo eles, quando o mercado ficar mais tranqüilo, as distorções tendem a diminuir, beneficiando os cotistas.

Patricia Eloy

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