O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) vê a possibilidade de a economia brasileira entrar em recessão no segundo semestre deste ano.
“Com a permanência dos juros em patamar elevado, que não sinaliza para uma retomada dos investimentos e do consumo de bens duráveis até meados deste ano, aliada à queda real da massa salarial, o desempenho do segundo trimestre deve apontar para a permanência desse quadro de desaceleração ou mesmo para um quadro já recessivo”, alerta o instituto na Carta Iedi desta semana, publicada ontem.
O documento mostra que o Iedi tem dúvidas se a inflação sob controle, os juros mais baixos e o câmbio mais competitivo, quando (e se) alcançados, serão capazes de reverter, no segundo semestre, o desempenho ruim da economia, com queda do PIB de 0,1% (dessazonalizado) no primeiro trimestre deste ano ante o trimestre exatamente anterior. “Esse desempenho ratifica a revisão para baixo feita por diversas instituições da previsão do crescimento do PIB de 2003, e lança dúvidas (…) sobre a reversão dos indicadores para o ano”, diz o texto.
E o instituto finaliza destacando que “o cenário internacional de desaceleração também não colabora nas perspectivas de retomada”.
Inflação cede, mas dúvidas aumentam
A inflação pelo IPCA cedeu em maio menos que o previsto pela maioria dos analistas, dividindo as opiniões no mercado sobre se o Banco Central vai promover o tão esperado corte de juros já na próxima semana. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) recuou para 0,61% no mês passado após uma alta de 0,97% em abril, informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foi a menor taxa desde junho de 2002, quando o índice foi de 0,42%.
O resultado ficou no teto das estimativas de 10 economistas consultados, que previam uma taxa entre 0,40% e 0,61%. Uma sondagem do BC junto a 100 instituições financeiras mostrou uma projeção de 0,5%.
“O número de certa forma é ruim, mas, por outro lado, continua a trajetória de queda da inflação. Se o BC vai continuar com os juros a 26,5% ou se já tem espaço para afrouxar, vai ser uma decisão bastante complicada”, disse Juan Jensen, economista da consultoria Tendências.
O Comitê de Política Monetária se reúne na próxima semana para decidir sobre os juros, que estão estacionados há 3 meses em 26,5% – maior patamar em quatro anos.
As taxas de juros têm motivado fortes protestos do setor produtivo e de integrantes do próprio governo, como o vice-presidente José Alencar, que culpam o aperto monetário pela fraca atividade econômica.
A produção industrial de abril, de acordo com dados do IBGE divulgados na segunda, recuou pelo segundo mês consecutivo, com queda de 0,1% em relação a março e de 4,2% em relação a abril de 2002.
“Não foi nada maravilhoso o número de hoje, mas dá para iniciar um afrouxamento (monetário)”, afirmou Adauto Lima, economista-chefe do WestLB Banco Europeu.
No ano, a inflação acumulada chega a 6,8%, próximo da meta de 8,5% perseguida em 2003. Em 12 meses, a inflação pelo IPCA atinge 17,24%.
Energia pressiona – Eulina Nunes dos Santos, gerente do Sistema de Índice de Preços do IBGE, disse que o índice de maio está mostrando que a alta de preços está perdendo fôlego e o efeito da recente queda do dólar torna-se mais evidente.
“As altas foram pontuais. Dá para perceber que a inflação generalizada diminuiu. A maioria dos produtos apresentou crescimento menor”, disse a repórteres, acrescentando que a inflação tende a recuar ainda mais em junho.
O índice de maio foi puxado pelo aumentos dos custos de energia elétrica, que subiram 6,45% após uma alta de 3,28% em abril, representando a maior contribuição individual no índice, de 0,27 ponto percental.
O aumento refletiu reajustes contratuais e a cobrança de uma taxa para iluminação pública em algumas capitais, segundo o instituto.
Deflação – O Índice Geral de Preços Disponibilidade Interna (IGP-DI) registrou deflação de 0,67% em maio após uma alta de 0,41% em abril, ajudado pela queda dos preços no atacado. Foi a menor taxa desde setembro de 1995, quando o índice caiu 1,08%.
Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), o Índice de Preços no Atacado (IPA), que pesa mais no IGP-DI, caiu 1,68%, registrando a menor taxa desde setembro de 1995, após uma alta de 0,07% em abril.
Já os preços verificados no varejo, medidos pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC), registraram alta, mas reduziram o ritmo de aceleração. O IPC subiu 0,69% após um avanço de 1,12% no mês anterior.