Indústria sai do vermelho após 3 meses
A indústria brasileira começa, enfim, a esboçar recuperação. Após três meses seguidos de retração, a produção cresceu 2,1% em março em relação a fevereiro, segundo pesquisa industrial do IBGE divulgada nesta terça-feira, 11. Na comparação com março de 2003, a expansão foi de 11,9%, a maior variação anual desde janeiro de 2001, quando houve alta de 12,13%. A exportação de bens de capital e de bens de consumo duráveis foi o maior motor para a atividade industrial, a exemplo do que vem acontecendo nos últimos meses. Por outro lado, esse resultado se deve, em parte, ao número maior de dias úteis (no ano passado, o carnaval caiu em março).
– As exportações são claramente o destaque ao longo do ano passado e do início deste ano – disse o coordenador de indústria do IBGE, Sílvio Sales. – Houve uma estabilização da produção, mas só saberemos se a indústria se recuperou mesmo a partir das próximas pesquisas.
No primeiro trimestre deste ano, a indústria atingiu crescimento de 5,8% frente ao mesmo período de 2003. Nos últimos 12 meses, o avanço foi de 1,1%.
Segundo Sales, a expansão em março é ainda mais significativa porque foi compartilhada por grande parte dos segmentos industriais: dos 23 pesquisados pelo IBGE, 18 tiveram crescimento. O principal impacto positivo em março veio da produção de bens de capital (1,9%). Esse índice, porém, não reflete uma maior dinâmica industrial.
– A procura por esses produtos vem de fora do setor. Boa parte dos caminhões está se destinando à agricultura, enquanto os aviões são para a exportação – afirmou Sales.
A indústria de bens de consumo duráveis, com crescimento de 1,6%, foi o outro pilar do resultado positivo apurado pelo IBGE. Seu desempenho foi sustentado pelas linhas de montagem de automóveis (50,1% de expansão anual) e de eletrodomésticos de linha branca, que inclui fogões e geladeiras (25,4%), e da chamada linha marrom, com aparelhos de som e TV (74,2%).
– O comércio de bens duráveis foi agressivo em ofertas de crédito – constatou Sales. – Além disso, algumas sondagens com as indústrias mostram que elas vinham atendendo aos pedidos com seus estoques, que já foram escoados. A partir de agora, as vendas terão maior impacto sobre a produção.
Segundo Sales, a grande barreira para a recuperação estrutural da indústria está na produção de bens de consumo não-duráveis, que teve variação negativa de 0,5% entre fevereiro e março.
– A produção de bens não-duráveis está defasada, pois é mais sensível à melhoria do mercado de trabalho, e menos à oferta de crédito – afirmou.
A fabricação de bens intermediários, como embalagens e autopeças, teve desempenho estável na série histórica, com taxa de expansão de 0,6% em março.
– Retomamos a atividade industrial ao nível esperado e a expectativa é boa, pois a desconfiança do governo e a inflação alta já ficaram para trás – disse David Kupfer, professor de economia da UFRJ.
Mario Grangeia