Indústria receberá US$ 5 bi até 2005
A indústria deverá receber cerca de US$ 5 bilhões em investimentos externos no período 2003-2005, segundo levantamento feito pelo Departamento Econômico do Banco Central, com base em intenções de investimentos divulgadas por empresas industriais. Desse total, 57% devem se destinar ao setor automobilístico e mais de 30% serão direcionados para os setores que apresentam alta utilização da capacidade instalada, sendo 17,7% para metalurgia básica, 8,3% para produtos químicos e 6,1% para papel e celulose.
Esses dados constam de um texto anexo do Relatório de Inflação, e foram publicados em resposta à eventuais preocupações com o esgotamento da capacidade instalada em setores da indústria “e a implicações sobre o comportamento futuro dos preços, na hipótese de recuperação da demanda interna”, relata o texto. A rigor, o documento do BC não nega que há segmentos da indústria próximos da sua capacidade produtiva, mas não sanciona as conclusões do estudo feito pelo Iedi, instituto patrocinado pelos principais grupos industriais do país.
O instituto analisou 28 setores industriais e concluiu que mesmo com demanda interna estagnada, cinco setores chegariam a 95% ou mais da capacidade: papel e gráfica, siderurgia, metalurgia dos não-ferrosos, outros produtos metalúrgicos e borracha. Na maioria dos cenários, vários outros setores chegariam próximos ou superariam 90%: têxtil, elementos químicos e petroquímicos, refino de petróleo e indústria petroquímica, químicos diversos, minerais não-metálicos e refino de óleos vegetais e gordura para alimentos. E sugeriu a criação de incentivo fiscal e disponibilização de cerca de R$ 10 bilhões em financiamentos, principalmente através do BNDES.
O estudo do Banco Central se baseia em dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Fundação Getúlio Vargas (FGV). No ano passado a utilização da capacidade instalada cresceu apenas 0,4%. O nível de utilização da indústria paulista foi de 78,2% em 2002 ante 76,4% registrado no ano anterior. Em janeiro de 2003, segundo a FGV, a utilização da capacidade instalada para a indústria de transformação como um todo chegou a 80,8%, ante 79,5% em igual mês do ano anterior e 82,1% em janeiro de 2001, ano em que a indústria bateu recorde de produção.
Entre os 21 segmentos da indústria de transformação listados pela FGV, cinco apresentaram uso da capacidade próximo aos recordes registrados após 1990: metalurgia, química, papel e papelão, indústria de alimentos e têxtil. Desses, apenas três atingiram percentuais acima de 90%: têxtil, metalurgia e papel e papelão. Os demais setores apresentam “níveis de ociosidade relativamente elevados”, diz o BC.
“Cabe destacar, contudo, que os poucos setores com elevada utilização da capacidade instalada apresentaram aumentos expressivos das exportações no ano passado, à exceção da indústria têxtil, e tiveram importante participação no crescimento de 1,4% da atividade de transformação em 2002”, assinala o texto.
Pelos dados setoriais de utilização da capacidade e diante da informação de intenções de investimentos externos, o estudo do BC conclui: São “pouco factíveis” pressões futuras sobre preços internos advindas do crescimento da demanda frente os atuais níveis de utilização da capacidade, “haja vista que a grande parte dos setores industriais não apresenta fatores restritivos à produção decorrentes da falta de capacidade produtiva”; e informações sobre intenções de investimentos setoriais nos próximos anos indicam que estão “sendo efetivadas ações” para aumentar a capacidade instalada dos setores envolvidos, necessária à futura expansão da produção industrial com ênfase nas exportações.