A atividade industrial começa a dar sinais de recuperação no final do trimestre e, na opinião de empresários e analistas, o movimento tende a continuar gradual ao longo do ano, com algum risco de períodos de descontinuidade por conta de solavancos eleitorais ou internacionais.
Indícios mais firmes de reação devem surgir no segundo trimestre e vir a se concretizar a partir de julho, quando a base de comparação entre os dos períodos deve ficar favorável para 2002, já que, no primeiro trimestre de 2001, houve picos de produção para a maioria das atividades industriais.
Para a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o setor retomará os sinais positivos, para o acumulado de 12 meses, a partir de maio. Em março, segundo Clarice Messer, diretora do Departamento de Economia da Fiesp, o acumulado ainda vai ficar negativo em 1%. “As demissões em fevereiro foram mais brandas, o que é um sinal positivo”.
“Eu me arrisco a dizer que o segundo trimestre já estará melhor do que o de 2001”, diz Roberto Nicolau Jeha, presidente da São Roberto, fábrica de papelão ondulado, matéria-prima para as caixas de papelão, que atende a quase todos os segmentos produtivos. Segundo ele, o setor deve fechar o trimestre empatado com o mesmo período do ano passado, quando foram produzidas 435.383 toneladas.
No entanto, a renda deprimida e a ocupação lenta, aliadas a juros ainda altos – ontem o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a Selic para 18,50%, corte de 0,25 ponto percentual – , são fatores limitadores de uma expansão mais rápida.
A indústria de eletroeletrônicos surge como uma das mais beneficiadas pela conjunção do fim do racionamento de energia com a Copa do Mundo. Depois de encolher em 2001 e cair em janeiro, o setor surpreendeu com um aumento de 26,43% nas vendas de imagem e som, em relação ao mês anterior, segundo a Eletros.
“Alguns itens da linha de televisores já estão com vendas suspensas para março e com 30% da produção de abril já vendida”, diz Paulo Ferraz, vice-presidente da Philips. A empresa, que investiu em torno de US$ 50 milhões numa nova linha de televisores de tela plana no segundo semestre do ano passado, no auge do racionamento, colhe os frutos agora, com vendas até 23% (em euros) superiores no bimestre janeiro/fevereiro em relação ao mesmo período de 2001.
A Semp-Toshiba vai na mesma direção, com a produção de março de alguns modelos de televisores já quase toda vendida.
De acordo com Ferraz, condições melhores de crédito ao consumidor impulsionariam ainda mais as vendas do setor. “Um número maior de parcelas de pagamento facilitaria o acesso a estes produtos”, diz.
A questão do crédito é um dos principais problemas dos fabricantes de bens duráveis, sobretudo os de maior valor, como os automóveis. Com resultados aquém das expectativas, as montadoras atiram em duas direções na esperança de acertar o consumidor: investem em lançamentos e em juros menores do que os praticados pelo mercado.
A Volkswagen do Brasil reduziu em 0,13% a produção em janeiro deste ano e em fevereiro o total produzido caiu 16,92%. O Banco Volkswagen anunciou ontem a redução da taxa de juros do financiamento de veículos de 2,15% ao mês para 1,99%, condição válida até o dia 31 de março para veículos financiados em até 24 meses com 20% de entrada. A General Motors, que trabalha com dois turnos e está implantando um Programa de Demissões Voluntárias para o setor administrativo, aposta nos lançamentos. Em janeiro o volume de vendas teve um aumento de 25,15% e em fevereiro, cresceu 0,99% em relação ao mês anterior, ficando 9,21% abaixo do mesmo mês de 2001. A Ford registrou queda de 10,32% nas suas vendas de varejo em janeiro deste ano em relação ao mesmo mês do ano passado. Em fevereiro caiu 20,24%.
Nos setores de bens semi e não-duráveis os sinais de reação são mais claros, mas também limitados pela compressão da renda do trabalhador que, na avaliação da LCA Consultores, pode vir a encolher em até 1,2% neste ano quando comparada com o ano passado.
A indústria de alimentos Nestlé deve aumentar a produção em 9,5% neste primeiro trimestre do ano, em comparação com o mesmo período de 2001, segundo o presidente da multinacional no Brasil, Ivan Zurita. O faturamento crescerá no mesmo ritmo, para R$ 985 milhões, enquanto que em 2001, a receita no trimestre foi de R$ 900 milhões. As altas temperaturas registradas nas últimas semanas – média superior a 32ºC na região sudeste – ajudaram a impulsionar as vendas de sorvete – e as da Nestlé. Já a Itambé aumentou a sua produção de leite e derivados em 15% no primeiro trimestre de 2002. Para o primeiro trimestre deste ano o faturamento esperado é de R$ 250 milhões. No mesmo período do ano passado, a receita foi de R$ 200 milhões.
Entre os semiduráveis, as indústrias têxteis estão com boas perspectivas de crescimento, mas a preocupação do consumidor com a renda e o desemprego entrava os resultados. Para Álvaro Ponte, presidente da Staroup, “as vendas são praticamente similares às do ano passado, com pequeno aumento de 2% a 3%, porque o consumidor final está comprando o mínimo possível”. No ano passado, a Staroup produziu 2 milhões de peças, das quais 700 mil ganharam a marca de uma outra empresa.
Já o gerente de vendas da fábrica de lingerie Del Rio, Jorgi Nishioka, estima que a produção industrial do primeiro trimestre de 2002 apresente crescimento de 20% na comparação com a dos três primeiros meses de 2001, quando foram vendidas 3,1 milhões de peças. Em janeiro, as vendas aumentaram 8%; em fevereiro, 12%; e em março, 10% até o momento. “Acreditamos que a produção deste ano vai crescer mais por conta do Dia das Mães e dos Namorados”.