Uma aproximação maior entre Brasil e Portugal, poderá servir de ponto de partida para a integração entre o Mercosul e a União Européia nos próximos anos. A história em comum entre os dois países, que teve início há mais de 500 anos com a colonização do Brasil por portugueses; o idioma em comum e o já bem-sucedido comércio bilateral, são tidos como a chave para o ingresso dos países do cone sul no continente europeu e vice-versa.
Esse desafio de reaproximar os dois países que já pertenceram a um mesmo governo no passado, foi lançado recentemente, durante um fórum realizado na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). “Para o Brasil, essa aproximação é de suma importância, já que Portugal se apresenta como uma importante porta de entrada para os produtos brasileiros na União Européia”, disse o diretor do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Fiesp, Maurice Costin.
O principal objetivo do Brasil é romper ainda mais a barreira comercial entre os dois mercados. Mas não é o único. “A partir de outubro é possível que o Brasil retome as conversas sobre a entrada de seus produtos de forma mais eficiente na União Européia. E uma das matérias de maior interesse para o País será, com toda certeza, a questão da agricultura”, diz o diretor do Departamento de Negociações Internacionais, Regis Arslanian.
Intercâmbio – Os europeus já fizeram a lição de casa e vêm investindo fortemente no Brasil. Só de Portugal na última década foram mais de R$ 10 bilhões injetados no mercado brasileiro. Grande parte do valor, R$ 7 bilhões, veio da Portugal Telecom, empresa de telefonia celular que atualmente é parceira da Telefónica na marca Vivo. Aliás, no processo de privatizações brasileiras, Portugal ficou com 5,6% do montante gerado no âmbito do programa nacional.
E a previsão de investimentos para o próximo ano é mais do que animadora. “Esperamos que as empresas portuguesas invistam cerca de R$ 3 bilhões em 2004”, diz Eduardo Correia de Matos, presidente da Portugal Telecom Brasil.
Mercado – Atualmente são 250 empresas portuguesas instaladas em solo brasileiro, responsáveis por mais de 100 mil postos de trabalho, que faturam algo próximo de R$ 10 milhões por ano. Esses números fizeram de Portugal o quinto maior investidor estrangeiro no País, atrás apenas dos Estados Unidos, Espanha, Holanda e França.
Todo esse volume já gerou inclusive uma reclamação dos lusitanos: “Os investimentos portugueses na última década, de R$ 10 bilhões, foram dez vezes maiores do que os do Brasil, que chegaram a apenas R$ 1 bilhão”, diz João Mota Pinto, que pertence à Embaixada de Portugal no Brasil e é diretor da delegação do Instituto Público português pertencente ao Ministério da Economia e responsável pela promoção e internacionalização da economia portuguesa.
Para Mota Pinto, esses números mostram uma lacuna enorme que pode ser preenchida por produtos brasileiros nos próximos anos. “Por isso, Portugal deve ser um agente importante para a inserção do Brasil na Europa”, finaliza.
Adriana Gavaça