Guerra começa com ataques isolados
A poucas horas do fim do prazo dado pelo presidente americano, George W. Bush, ao líder iraquiano Saddam Hussein para deixe o poder e parta para o exílio ou enfrente a guerra, os sinais da iminência de um conflito eram evidentes ontem (19/03) no deserto do Kuwait.
À tarde na região do Golfo Pérsico (manhã do Brasil), aviões de combate americanos e britânicos lançaram ataques contra supostas bases de defesa antiaérea e de comunicações do Exército iraquiano na zona de exclusão aérea do sul do Iraque. À noite, testemunhas relatavam o intenso movimento de tropas e veículos de combate, dos acampamentos no Kuwait na direção da fronteira iraquiana.
No começo da madrugada, as comunicações com as bases e instalações militares operacionais americanas foram restringidas indicando que a condição de defesa tinha sido elevada para Defcon 4 – a mesma do primeiro dia de ataques contra o Afeganistão, em outubro de 2001.
Os mais de 125 mil militares americanos e 60 mil britânicos no Kuwait tomavam posição em meio a uma forte tempestade de areia – a segunda em menos de uma semana. De acordo com o centro de comando central avançado dos EUA, instalado no Catar, um grupo de 17 soldados iraquianos cruzou a fronteira para render-se no Kuwait antes mesmo de a guerra começar. Na tentativa de persuadir novas deserções, se intensificaram as operações de distribuição de panfletos, mensagens de rádio e e-mails, nas quais asseguram que qualquer esforço de resistência será esmagado.
Em Washington, Bush se reuniu com seu gabinete de guerra, integrado pelo vice-presidente Dick Cheney, pelos secretários de Defesa e Estado, Donald Rumsfeld e Colin Powell, e pela secretária de Segurança Nacional, Condoleezza Rice. Mais tarde, o porta-voz da Casa Branca, Ari Fleischer, advertiu os cidadão americanos para que se preparem “também para a perda de vidas humanas”.
Pelo lado iraquiano, o governo de Bagdá acusou os EUA de “mentir e enganar suas tropas” e pediu aos soldados americanos que “não obedeçam às ordens de seus superiores para invadir o Iraque”. “Eles enganam seus soldados quando dizem que a invasão do Iraque será uma excursão e não lhes explicam o incerto destino que encontrarão se obedecem a tais ordens”, disse o ministro da Informação iraquiano, Mohamed Sayed al-Sahaf.
O ministro acrescentou que eventuais americanos capturados serão considerados mercenários, e não combatentes regulares, “porque esta não é uma guerra, mas uma agressão que viola a legalidade internacional”.
Forças leais a Saddam cruzaram ontem vastas áreas do Iraque para concentrarem-se em Bagdá e outras das principais cidades do país.