Fundos: pequeno e médio investidor foram os que mais perderam
A maior parte das perdas com o ajuste dos fundos de investimento pode ter atingido principalmente o bolso dos pequenos e médios investidores. Ao fixar em fevereiro um prazo de sete meses para que os bancos atualizassem o valor dos títulos que compõem suas carteiras, o Banco Central criou uma brecha para que os grandes investidores – que acompanham no dia a dia o humor do mercado – não só minimizassem eventuais prejuízos mas também auferissem ganhos.
Para isso, bastava pedir o resgate de parte da aplicação ainda com base em cotas valorizadas ( com os títulos precificados por seu valor de face, e não de mercado), prejudicando os que ficaram com recursos nos fundos. O resgate seria direcionado a um outro fundo já atualizado, livre de oscilações, ou a outros ativos.
– Criaram-se duas classes de investidores. Quem soube antes fugiu do prejuízo. O melhor teria sido impor a mudança de uma só vez – afirmou o consultor Alberto Borges Matias, da ABM Consulting.
BB orientou grandes investidores – Maior administrador de fundos do país, o Banco do Brasil admite que apenas os cotistas de fundos exclusivos passaram a discutir com o banco formas de preservar suas carteiras. Estes investidores não são muitos, mas detêm mais de R$ 20 bilhões dos R$ 48 bilhões administrados pelo BB só em renda fixa e DI.
De acordo com o diretor-executivo da BBDTVM (gestora dos fundos), Arnaldo Vollet, isso aconteceu porque a própria circular que definiu o prazo de ajuste deu aos grandes investidores (titulares de fundos exclusivos) a opção de migrar ou não para o modelo de marcação de mercado.
– A pedido dos grandes investidores, iniciamos em abril os ajustes das carteiras, de modo a produzir o menor impacto. Mas esse processo não chegou aos fundos de rede (de varejo) – afirmou Vollet, que estima perdas entre 1,5% e 2% até segunda-feira com a antecipação do ajuste de todas as carteiras.
Estrago é de R$ 2,2 bi -O estrago medido até agora no mercado chega próximo aos R$ 2,2 bilhões. Este valor se refere à perda de patrimônio dos fundos de investimento até segunda-feira, de acordo com estimativa feita pelo consultor Walmir Duarte Costa, fundador do site Fundos.com.
Segundo ele, pouco mais de 80 fundos (de um total de 1.200) ainda não informaram o novo valor de suas cotas. A maior queda no valor das cotas foi registrada pelo fundo InvestCaixa, da Nossa Caixa, que só na sexta-feira desvalorizou 5%.
Na Caixa Econômica Federal (CEF), algumas carteiras amargaram prejuízo de até 4,68%. Mais bem informados do que os correntistas comuns, os grandes investidores logo notaram diferenças entre a rentabilidade dos fundos mantidos por bancos nacionais e estrangeiros.
Por determinação de suas matrizes, os estrangeiros saíram na frente e ajustaram suas carteiras em seguida à determinação do BC. O HSBC, por exemplo, que já vinha se adequando à nova metodologia desde o início do ano, informou que suas perdas com a antecipação do ajuste foram inferiores a 1% – bem abaixo do grosso das instituições nacionais.
A precaução maior dos grandes investidores pode estar refletida no movimento recente de aplicação e resgate dos fundos de investimento. Em abril, de acordo com dados da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), os fundos registraram saques de R$ 5,077 bilhões.
Só os fundos DI – os que mais foram atingidos pela mudança – perderam R$ 1,828 bilhão. O CDB, um título de crédito privado, pode ter sido um dos refúgios para esses recursos. No ano, o saldo dessas aplicações cresceu mais de R$ 7 bilhões.
Aguinaldo Novo e Ronaldo D'Ercole