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FMI prepara o terreno para novo acordo com o Brasil

Guarulhos, 20 de maio de 2003

A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) dará apoio ao governo Lula na renegociação de um novo empréstimo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), para fazer frente às necessidades do país após o vencimento do acordo de US$ 30 bilhões, em dezembro. A preparação de um possível novo pacote de ajuda (já dado como inevitável por banqueiros) foi um dos temas da conversa da vice-diretora gerente do FMI, Anne Krueger, com empresários, nesta segunda-feira (19), na sede Fiesp, disse Clarisse Messer, diretora da federação.

Krueger, que não quis falar com a imprensa, mas de acordo com Messer, ela teria destacado que o fluxo de capitais ao Brasil melhorou recentemente, porém os recursos ainda são de curto prazo. A dirigente do FMI teria afirmado que o país ainda precisa conquistar o investimento externo direto de mais longo prazo de “forma mais intensa”. Essa análise também teria sido feita por Krueger em almoço com banqueiros no Clube São Paulo, segundo dirigentes de banco presentes.

Por isso, segundo Messer, a posição do FMI com relação à postura que o Banco Central deve adotar em relação ao câmbio é de “esperar para ver” qual será o novo nível de reacomodação do real, após a forte desvalorização do final de 2002. A Fiesp defendeu a necessidade de redução de juros no Brasil já, no que teve apoio de pelo menos um dos banqueiros presentes ao almoço com Krueger. Mas a dirigente do FMI preferiu não se pronunciar a respeito.

Um assunto que mereceu especial interesse de Krueger foi o debate em torno da Lei de Falências, da necessidade de redução do chamado risco jurídico nos empréstimos bancários, decorrente das dificuldades de execução das garantias, e das relações desses fatores com o baixo investimento externo e crédito escasso no país. Aproximadamente metade da reunião com os banqueiros girou em torno desse assunto, que também foi debatido com destaque no encontro com os empresários.

Os banqueiros chegaram a se mostrar preocupados com a indefinição a respeito das garantias na proposta sobre a Lei de Falências do Executivo, mas Otaviano Canuto, secretário de assuntos internacionais do Ministério da Fazenda, que acompanhou os integrantes do Fundo, ressaltou que o projeto não está finalizado. O tamanho do spread bancário, o custo do capital e a cunha tributária sobre o crédito foram outros temas de debate relacionados com o crédito escasso.

Segundo Canuto, os integrantes do FMI demonstraram interesse em ouvir análises sobre o país não só de integrantes do governo e pediram encontros com os diversos setores da sociedade civil. A visita de Krueger não visa a liberação de US$ 9 bilhões previstos no acordo com a instituição para agora, informou ele. Missão do FMI liderada por Jorge Márquez-Ruarte acaba de deixar o país já com a intenção de recomendar a liberação dos recursos. “Há uma convergência grande. O que o governo tem feito é o que quase todo mundo acha que tem de ser feito”, disse Canuto. Segundo Messer, Krueger destacou que as medidas do governo estão na direção correta.

Por volta das 9h30 da manhã, Krueger, acompanhada de Anoop Singh, diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental do FMI, e de Thomas Dawson, diretor do Departamento do Relações Exteriores, entre outros, esteve na Faculdade de Economia e Administração da USP. Ela conversou com cerca de 20 acadêmicos, entre eles a diretora da FEA, Maria Tereza Fleury, o ex-reitor Jacques Marcovitch e o diretor da Fipe, Simão David Silber.

Do almoço com os banqueiros participaram Hugo Dantas, diretor-geral da Febraban; Michaeal Geoghegan, presidente do HSBC; Antônio Bornia, vice-presidente do Bradesco; Gabriel Jaramillo, presidente do Santander; Fernando Sotelino, presidente do banco de atacado do Unibanco; Roberto Setúbal, presidente do Itaú; Octavio de Barros, diretor do BBV Banco; Gustavo Marin, presidente do Citibank; Fábio Barbosa, presidente do ABN-Amro Real; Geraldo Carbone, presidente do BankBoston; além representantes do Banco do Brasil, Nossa Caixa e Caixa Econômica Federal. Os empresários presentes no encontro com o Fundo foram Roberto Faldini, Alfried Ploger, Robert Mangels, Ségio Haberfeld, Weber Ferreira Porto, José Augusto Correia, Ricardo Antonio Weiss, Ozires Silva e Mário Villares.

Cristiane Perini Lucchesi