O presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou ontem, em discurso no Congresso Nacional do Chile, que há sete anos vem alertando sobre a necessidade de os países adotarem medidas para pôr fim à volatilidade dos fluxos financeiros. O presidente valeu-se do discurso para reforçar suas teses em favor da reforma do sistema financeiro mundial e de maior simetria no comércio entre países ricos e pobres.
Em princípio, o espaço reservado para a apresentação de seus pontos de vista seria a Conferência das Nações Unidas sobre o Financiamento ao Desenvolvimento, que transcorre nesta semana em Monterrey e para a qual Fernando Henrique cancelou sua participação.
O presidente Fernando Henrique Cardoso reforçou em seu discurso no Congresso Nacional do Chile que a primeira vez em que defendeu o controle dos fluxo financeiro foi em sua visita a Santiago, no seu primeiro mandato. Ele ressaltou que o problema se agravou nos anos que se seguiram e que a migração de capital especulativo de forma irracional provocou as crises do México, do Sudeste Asiático, da Russia, do Brasil e, recentemente, da Argentina. “A questão continua em aberto, sem que se tenha avançado um passo sequer rumo a maior previsibilidade dos movimentos de capital”, afirmou.
Fernando Henrique lembrou que não faltaram ao longo da década propostas para fazer frente a essa questão. Em referência direta aos Estados Unidos, o presidente destacou que houve ausência de “sensibilidade política por parte dos estados com maior influência sobre as instituições multilaterais de crédito”.
Direitos de saque
Ele voltou ainda a insistir nas teses que defendeu na última reunião anual do Banco Interamericano de Desenvolvimento, em Fortaleza, de reforma nos critérios do Fundo Monetário Internacional sobre os direitos de saque dos países-membros e de critérios para a compatibilização de suas dívidas. “São questões práticas que merecem respostas efetivas”, afirmou. Fernando Henrique explicou que a satisfação dessas expectativas poderá permitir um perfil mais “humano e solidário” ao processo de globalização. Ressaltou ainda que não se trata de por em discussão a lógica de mercado, mas de criar regras mais equilibradas para que os estados possam explorar suas vantagens comparativas.
Correção de assimetrias
Outro tópico reforçado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso em seu discurso foi a correção das assimetrias existentes no comércio e nas finanças entre países ricos e pobres. Nesse ponto, o presidente enfatizou que a negociação da nova rodada da Organização Mundial do Comércio deverá permitir avanços. O presidente reiterou que o Brasil não vê outra razão para avançar no livre comércio senão a garantia de maior acesso ao mercado dos Estados Unidos, o que significa um resultado simétrico para essas negociações.
O presidente vem defendendo essas teses em todas as conferências internacionais que vem participando nos últimos anos. Em 2001 endereçou cartas aos líderes dos países desenvolvidos nas quais defendeu essas mesmas questões. Ele também reforçou esses tópicos em seu discurso na sessão de abertura da Assembléia Geral da ONU em novembro, e em fevereiro deste ano, na reunião de cúpula da Governança Progressiva, em Estocolmo. No discurso realizado no Congresso Nacional chileno, o presidente falou em espanhol.
Ele destacou os laços diplomáticos entre os dois países e os seus próprios vínculos com o Chile, onde viveu em auto-exílio político, no final da década de 60. O presidente lembrou que quando vivia em Santiago seus filhos falavam em castelhano, “e castelhano do Chile”, dentro de casa. Lembrou ainda que o ministro da Educação, Paulo Renato Souza, que o acompanhou na visita, também viveu no Chile ao longo de 9 anos e que o candidato tucano à sua sucessão, José Serra, igualmente escolheu o país para viver, durante o governo militar no Brasil.
Denise Chrispin Marin