O Brasil não está em recessão ainda, mas parece estar caminhando para isso, segundo a “Sondagem Conjuntural da Indústria da Transformação” deste mês, divulgadapela Fundação Getúlio Vargas (FGV). “A desaceleração da atividade industrial, neste início de segundo semestre, deixa de ser um processo lento e gradativo para tomar ares de recessão”, diz o início do texto de análise da pesquisa. “Estamos na ante-sala da recessão, o que não quer dizer que o Brasil vá entrar em recessão. Pode ser que a situação melhore”, diz o coordenador da pesquisa, Salomão Quadros.
A conclusão vem principalmente das respostas sobre o nível de demanda entre as 1.220 empresas pesquisadas, que respondem por vendas que totalizam R$ 236,6 bilhões. A diferença entre os que acham que a demanda está fraca e os que acham que está forte cresceu de cinco pontos percentuais em abril, mês da sondagem anterior, para 17 pontos este mês.
Pontos em comum
A diferença de 12 pontos percentuais de um trimestre para o outro nessa questão e nesse período é idêntica à de 1983, praticamente igual a de 11 pontos de 1998 e semelhante também à de 15 pontos de 1982. Em 2001, no entanto, no segundo mês do racionamento de energia, a diferença era ainda maior, alcançando 22 pontos percentuais.
– Estamos melhor que no ano passado, mas parecidos com períodos que antecederam recessões – afirma Quadros. “A economia está suficientemente enfraquecida para afundar se vier mais alguma coisa.”
A sondagem realizada pela FGV constatou que está ocorrendo um acúmulo de estoques, que é interpretado por Quadros como outra evidência do desaquecimento, já que o acúmulo de estoques significa que a produção está acima do que se pode vender.
Apesar da queda na demanda e dos estoques excessivos, a Sondagem também mostra que, em média, a indústria não baixou a sua produção e até espera alguma recuperação da demanda, com aumento de produção e, surpreendentemente, mais empresas esperam contratar que demitir. “Isso mostra que as indústrias estão apostando que essa baixa demanda é passageira e está sendo dada por motivos conjunturais”, diz Quadros.
O nível de utilização da capacidade instalada este mês é de 79,6%, meio ponto a mais do que na última sondagem, em abril. “Pelo nível de utilização da capacidade instalada, a produção está estagnada”, afirmou Quadros. “É possível que ainda no segundo semestre se tenha de fazer algum tipo de ajuste para baixo na produção. Alguns setores já estão fazendo, como o automobilístico.”
A maior restrição ao aumento da produção apontada pelas empresas é a insuficiência de demanda, indicada por 40%. Apesar de mais empresas considerarem a demanda fraca, tanto no mercado interno quanto no externo, esta diferença é maior em relação ao mercado doméstico, onde alcança 21 pontos percentuais contra seis pontos percentuais no que se refere ao mercado externo.
Avaliação de negócios
A avaliação das indústrias sobre a situação dos seus negócios piorou de abril para julho, segundo Quadros e agora está no mesmo nível de julho de 2001, “quando era máximo o impacto da crise energética sobre a confiança empresarial”.
Segundo a pesquisa da FGV, para os próximos seis meses, a maioria das empresas espera ainda que a situação dos negócios melhore. A diferença entre as que esperam que melhore e as que esperam que piore, no entanto, caiu de 44 pontos percentuais na sondagem anterior, em abril, para 18 na pesquisa divulgada ontem.
Segundo a análise da FGV, isso significa que “apesar da modestíssima recuperação da atividade industrial no primeiro trimestre, as expectativas empresariais não haviam sido abaladas e continuavam em seu processo de recuperação, mas isto agora não é mais verdade”, concluiu Quadros.