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Exportador já fala em desastre

Guarulhos, 29 de fevereiro de 2008

A queda do dólar abaixo do patamar de R$ 1,70 levou desespero aos exportadores brasileiros. O sócio-proprietário da exportadora de café Três Marias, Roberto Ticoulat, resumiu o impacto da notícia. “Desta vez, as forças do setor produtivo foram exauridas. É um número simbólico, a moeda já vinha caindo, mas soou para nós como um desastre”, afirmou.

A Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) informou que, por causa dessa nova valorização do real, a entidade revisará a expectativa de sal-do para a balança comercial. Até ontem, a projeção era de US$ 29,73 bilhões para 2008.

O gerente do departamento de economia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), André Rebelo, fez um cálculo preliminar e afirmou que, com o câmbio atual, o superávit da balança deve cair de US$ 25 bilhões para US$ 20 bilhões no final do ano. “A única atitude possível para manter o câmbio em um nível aceitável é reduzir a taxa de juros”, disse Rebelo.

Menos categórico, o vice-presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e membro da São Paulo Chamber of Commerce Renato Abucham disse que algumas medidas ajudariam o setor produtivo. Entre elas, a eliminação da obrigação do exportador de fechar o câmbio (trazer os dólares de volta ao Brasil) 180 dias após o embarque das mercadorias. “O impacto não seria tão significativo, porque hoje o empresário traz o dinheiro para ganhar no mercado. Mas a obrigação não faz sentido. A empresa poderia trabalhar com os dólares no exterior para pagar frete, por exemplo”. Apenas 30% das divisas podem ficar no exterior para despesas. Ele propõe 100%.

Abucham também afirmou que é preciso limitar a atração de capital de curto prazo para o País. Se não é possível com a redução imediata dos juros, ele propôs a volta da tributação do investidor especulativo.

Custos – Embora reclamem das cotações do dólar desde que a moeda americana estava a R$ 3,50, os exportadores disseram que será difícil compensar a baixa atual, porque os custos de produção e financiamento estão aumentando.

“No setor de café, sobrevivemos porque temos 40% do mercado mundial e podemos pressionar os preços. Mas outros setores não têm essa possibilidade”, disse Ticoulat, da Três Marias. Em 2007, a empresa exportou US$ 12,3 milhões, valor 13% superior a 2006. Segundo ele, as indústrias de café não montam uma fábrica há 30 anos, enquanto novas torrefadoras foram inauguradas em países como Equador, Colômbia, Índia, Vietnã e Indonésia.