Exportação faz indústria crescer
A utilização do parque produtivo deve aumentar nos próximos meses em função das vendas de final de ano
O bom desempenho das exportações garantiu a recuperação da atividade industrial em junho, segundo divulgou ontem a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Após a queda registrada em maio nos principais indicadores relacionados à produção, os dados foram positivos e fecharam o primeiro semestre do ano com uma expressiva melhora na comparação com o mesmo período de 2004. “O maior enigma da economia é esse aumento das exportações com a taxa de câmbio atual”, disse o coordenador da unidade econômica da CNI, Flávio Castelo Branco.
Ele afirmou que a crise política não está afetando o cotidiano das empresas, mas pode criar um ambiente de desconfiança em relação ao futuro. “Se as expectativas sobre as condições correntes da economia se deteriorarem, pode ocorrer uma retração dos investimentos”, disse.
Ele ressaltou que o dia-a-dia da economia seria mesmo afetado se a crise política produzisse conseqüências como fuga de capitais ou aumento da taxa básica de juros, a Selic. Mas segundo o economista, o ambiente atual não sugere que isso vá ocorrer.
Crescimento – Em junho, as vendas reais na indústria voltaram a crescer, mas de forma moderada. No segundo trimestre de 2005, a expansão foi de 1,5% em relação aos primeiros três meses do ano, um crescimento bem menor que no primeiro e segundo trimestres de 2004, quando a expansão foi acima de 4%.
“O registro de taxas moderadas de crescimento das vendas e das horas trabalhadas na produção sugere que a indústria está se adaptando a um novo ritmo de expansão”, afirmou o coordenador da CNI. Esse novo ritmo, mais lento, teria sido determinado pela elevação das taxas de juros a partir de setembro do ano passado.
A CNI espera que a utilização do parque produtivo aumente nos próximos meses em função das vendas de final de ano. O indicador atingiu 82,6% em junho, 0,7 ponto percentual a mais que em maio, e fechou o primeiro semestre com uma média recorde para o período. “Mesmo com o uso intenso do parque produtivo no segundo semestre, não há risco de pressões nos preços ou gargalos”, disse.
Contratações – Castelo Branco também afirmou que há “um arrefecimento nítido” nas contratações nos últimos dois meses. O crescimento no número de empregos no acumulado do primeiro semestre, entretanto, foi de 6,36% na comparação com o mesmo período de 2004. Os indicadores industriais também mostram uma recuperação da massa salarial que é explicada, em grande parte, pela queda da inflação.
“A expectativa é de um crescimento moderado da indústria no segundo semestre. O ritmo da demanda doméstica deve se manter e a taxa de juros, que foi um fator limitativo no primeiro semestre, deve iniciar sua trajetória de queda já em agosto”, projetou o economista da CNI.
Castelo Branco prevê que a redução dos juros deve trazer “uma leve reversão” do processo de valorização do real frente ao dólar, o que vai ajudar nas exportações. Segundo ele, embora o dólar esteja sofrendo um processo de desvalorização no mundo todo, no Brasil os juros elevados atraem capital estrangeiro de curto prazo, ajudando na queda da moeda norte-americana. “Certamente essa não é a chamada taxa de câmbio de equilíbrio”, disse.
O economista, no entanto, acredita que as grandes empresas exportadoras continuarão no mercado e lembrou que os preços internacionais altos de alguns produtos compensam o câmbio baixo. A valorização do real frente ao dólar, entretanto, traz uma sinalização negativa para as empresas que pretendiam entrar no mercado exterior.
Quanto às importações, Castelo Branco acredita que o efeito do câmbio foi mais forte em meados do primeiro semestre. “As importações estavam crescendo fortemente, porque as empresas anteciparam as compras internacionais, sem acreditar que o câmbio fosse se manter tão baixo por tanto tempo”, afirmou, justificando o arrefecimento nas compras no mercado externo no mês de julho. (AE)