Etiqueta Empresarial
Por mais que se diga que vivemos a era da comunicação em rede, com computadores velozes como a luz, e que a tendência é diminuir o uso do papel em favor das telas de cristal líquido, nada me convence de que, para certas coisas, o papel ainda é o melhor suporte.
É o caso dos cartões de visita ou cartões profissionais. Dia desses um amigo comentava que já estava pensando em eliminá-los de sua vida uma vez que, agora, já era possível trocar “cartões eletrônicos”. Funciona mais ou menos assim: em vez de um entregar seu cartão de papel ao outro, ambos encostam suas agendas uma na outra de modo a transferir os dados!
Enquanto meu amigo discorria encantado sobre as vantagens de não mais ter que procurar nomes em um arquivo de papel fiquei a imaginar o ridículo da cena de duas agendas se beijando como em um momento de sexo virtual de filme futurista.
Mas o problema começa no momento de procura na memória, alguém que você muitas vezes não lembra o nome ou que viu apenas uma vez quando foi apresentado. Aí, que tecla apertar? O nome, que não lembramos? O cargo – do qual eventualmente não temos certeza? Pior: uma vez arquivados os preciosos dados, nunca mais nos lembraremos de consultá-los e eles acabam caindo no mais negro esquecimento.
Nesse caso, o papel ainda leva vantagem: é um pedaço concreto de nossa identidade e, em um momento de busca, estará muito mais a mão, fornecendo dados que, literalmente saltam aos olhos, facilitando o contato e a lembrança.
Algumas coisas não mudam com novos hábitos, já outras sim. De forma que pode continuar a utilizar seus cartões sem medo, apenas tome certos cuidados e adapte alguns detalhes.
Dizeres e Dados
Se é um cartão profissional fornecidos pela empresa, já existe um logotipo e um padrão onde figuram seu nome, cargo, endereço e e-mail. E atenção: a não ser em casos onde há uma orientação específica da empresa par tal, você deve evitar colocar também o numero do celular. É isso mesmo. É muito mais elegante, e demonstra muito mais atenção para com o interlocutor, você anota, a mão o celular como se fosse uma deferência a ele. Imagine-se em uma feira ou convenção onde trocam-se muitos cartões, muitas vezes com gente que nunca mais vemos. Para que fornecer uma informação tão pessoal quanto essa?
Não distribua como panfletos
Economize, literalmente seu cartão. É claro que se alguém oferecer o dele, é obrigatório retribuir. Se alguém pedir, você oferece e, ao final de um encontro onde há perspectivas de novas reuniões, é necessário trocar cartões. Assim como no início de uma reunião, com mais de, digamos três pessoas, onde é mais difícil decorar nomes e cargos. Ainda no caso de primeiros encontros: se forem apenas duas ou três pessoas, deixe para trocar os cartões no final: é mais simpático e menos comercial e fica como um gesto de que uma continuidade da conversa em questão.
Mas, em uma feira ou convenção, não saia distribuindo cartões ansiosamente. É preciso esperar o momento adequado e a pessoa certa.
Ao receber um cartão, é importante olhar – um gesto de atenção – e ao guardar; fazê-lo com cuidado em um lugar determinado para tal. Não se pode enfiá-lo no bolso do paletó ou jogá-lo dentro da bolsa ou pasta de trabalho. É uma grande falta de cortesia e as pessoas reparam mais do que se imagina.
Ainda: muitas vezes alguém nos oferece o cartão e estamos sem o nosso (o que realmente não deveria ocorrer). O que fazer? Há a corrente que diz que temos que dar um jeito, ainda que seja para anotar nome e telefone no guardanapo de papel. Há os que dizem que isso é impensável, que guardamos o cartão recebido e mandamos no dia seguinte o nosso na empresa da pessoa em questão.
Pessoalmente acho que devemos sentir o clima. Se for de informalidade e entusiasmo, por que não anotar no guardanapo? Esperar até o dia seguinte pode “esfriar” a proposta em andamento. Já se for uma ocasião mais formal, esse é o procedimento indicado.
Finalmente, esqueça aquela história de dobrar pontinha. É horrível e não faz menor sentido, tá?
Cartão pessoal
Ele é exatamente isso e não é uma frescura complicada. Há ocasiões em que não dá para mandar nosso cartão profissional. É o caso de um presente de casamento, de aniversário, flores para alguém, uma mensagem de candolências… Nesse momento quem está falando é o amigo e não o profissional. Portanto, é infinitamente mais elegante e ainda necessário ter um assim. Se você quiser; o cartão pessoal pode ser maior que o convencional ou ser duplo, com o nome na parte da frente e a parte de dentro reservada para os dizeres.
Por falar em mensagem: seja no cartão profissional ou no cartão pessoal, quando entregamos pessoalmente não riscamos nosso sobrenome. Mas, ao mandá-lo, o certo é riscar o sobrenome com uma linha na diagonal do mesmo. Fazemos isso para quebrar a formalidade.
No cartão pessoal é possível mostrar o seu estilo uma vez que não há necessidade de seguir um padrão tão rígido como no caso do profissional. Mas, é por isso mesmo que não é o caso de inventar e extrapolar na hora de escolher seu cartão. Branco ou creme para o papel e grafite ou preto para os tipos. Esqueça combinações vibrantes, letras exageradas ou materiais alternativos como cortiça ou PVC.
Nele, deve constar apenas o seu nome e sobrenome e só. Afinal, o cartão não é um currículo e supõe-se que você irá mandá-lo a pessoas do seu círculo de amizades que já possuam seu endereço e telefone.
Se não for assim, e você o estiver usando em um impulso depois de um arrebatador e fascinante primeiro encontro, mais um motivo para manter o mistério e conferir se a outra pessoa achou você tão inesquecível a ponto de localizá-lo/a mesmo com as parcas informações de seu cartão pessoal … e de todas as lembranças gravadas para sempre em seus sentidos!
Claudia Matarazzo é colunista jornal Agora São Paulo e escritora do livro Etiqueta Sem Frescura, Editora SENAC.