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Estudo sugere abertura nos serviços

Guarulhos, 06 de fevereiro de 2003

Um conjunto de propostas com boa dose de polêmica chegou às mãos do ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, para orientar o governo brasileiro nas negociações internacionais sobre a abertura do mercado de serviços.

As sugestões fazem parte de estudos encomendados ainda na gestão do embaixador Sergio Amaral no ministério a pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB), que fizeram consultas ao setor privado e identificaram as maiores oportunidades de ganhos para o país em três segmentos: construção civil, software e serviços de distribuição.

O diagnóstico, em alguns casos, é surpreendente. Recomenda-se, por exemplo, a adesão do Brasil ao Acordo de Compras Governamentais da Organização Mundial do Comércio (OMC), que regula internacionalmente as normas do setor apenas entre os membros da entidade e do qual o país não é signatário justamente por não querer limitar a capacidade do setor público de usar seu poder de compra como instrumento de política industrial.

A situação atual preserva espaços para o estímulo de indústrias nacionais com dinheiro público, mas dificulta a vida dos exportadores brasileiros em construção civil – um clube de empresas altamente competitivas no mercado internacional. Nos EUA, os gastos federais com serviços de engenharia, construção de estruturas e instalações chegam a US$ 11,6 bilhões por ano. Um espaço de atuação que fica mais fechado sem a adesão ao acordo.

O estudo referente a esse setor não tem meias-palavras: para as construtoras, o melhor negócio é o governo priorizar a Área de Livre Comércio das Américas (Alca) nas negociações internacionais. O futuro bloco é o que oferece “as maiores possibilidade de impactar o setor de engenharia, dado o peso do mercado norte-americano, mas principalmente em virtude da importância do mercado latino-americano para as empresas brasileiras”.

Segundo os pesquisadores, 86% dos contratos de projetos de engenharia e obras das construtoras nacionais têm países em desenvolvimento como destino. Venezuela, Colômbia, Panamá, México e Cuba são importantes mercados para as companhias brasileiras. Apesar de não haver muitas barreiras nesses países, seria melhor arrancar compromissos explícitos em um setor em que os argumentos para o protecionismo vão desde a segurança nacional (na construção de usinas nucleares e prédios militares) a padrões técnicos, ambientais, culturais e de registro profissional.

Embora recomende foco especial às possibilidades de expansão na Comunidade Andina, o estudo sugere que há potencial de crescimento no continente africano, asiático e mesmo na Europa – quase 60% das 200 maiores empresas de engenharia do mundo são de companhias britânicas, francesas ou americanas.

As razões são a alta capitalização das construtoras nacionais e o baixo nível de endividamento delas, que está na média de 30,3% do faturamento anual. Na economia brasileira como um todo, o endividamento atinge 110%. O comércio internacional de construção, incluindo os projetos de consultoria, movimenta US$ 132 bilhões por ano.

Na área de informática, outra proposta polêmica. O estudo recomenda uma análise “profunda” sobre a viabilidade ou não de o Brasil aderir ao Acordo sobre Tecnologia da Informação (ITA, na sigla em inglês), tratado no âmbito da OMC que visa diminuir as barreiras tarifárias e não-tarifárias para o comércio de produtos e serviços relacionados ao setor. Quarenta países já participam do ITA e outros 15 pensam em entrar, segundo o estudo, incluindo os principais concorrentes brasileiros.

O acordo prevê a eliminação de tarifas, provavelmente em 2005, para a importação de componentes eletrônicos e software. Para o Brasil, que tem uma indústria ainda nascente do setor, a adesão poderia significar o fim da proteção tarifária para o desenvolvimento de empresas do ramo.

O comércio mundial de produtos de tecnologia da informação atingiu US$ 680 bilhões em 1998. É mais do que a soma das transações agrícolas, de automóveis e têxteis. Os EUA respondem por 35% das compras globais. As exportações brasileiras de software, que não chegavam a US$ 1 milhão em 1993, alcançaram US$ 100 milhões em 2001. Mas ainda é pouco. A Índia, também emergente, vende US$ 6 bilhões por ano.

Herança do período de hiperinflação, o Brasil se tornou conhecido por sua competência no segmento de softwares para automação bancária. Destacam-se ainda programas para segurança de informações e dados e para agricultura. O estudo é claro ao dizer onde o país deve investir mais para vendê-los. “Os principais mercados que devem ser considerados prioritários para a inserção brasileira na área de informática são EUA e Mercosul”, diz a pesquisa.

O estudo mostra o potencial de crescimento do mercado chinês, onde um em cada cinco habitantes das grandes cidades já possui computador pessoal. Lembra que existem boas perspectivas no Japão e na Europa. Mas o mercado americano é o mais dinâmico do mundo para produtos da tecnologia de informação e o mercado da América Latina está avaliado em US$ 26,7 bilhões. Boa parte desse potencial está no Mercosul, mas o Brasil não explora suficientemente a região.

Para os serviços de distribuição, o estudo recomenda a busca pela queda de barreiras não-tarifárias em escala global. “O maior desafio será o da OMC.” O trabalho sugere também iniciativas do governo para levar as empresas de distribuição ao exterior, incentivar a formação de consórcios para atuação conjunta no mercado internacional e investimentos para ocupar espaço no comércio eletrônico.