ACE-Guarulhos

Estréia: Prenda-me se for capaz

O divertido Prenda-me se for capaz, que chega aos cinemas nesta sexta-feira, é um passeio despreocupado para os “puros-sangues” que o fizeram, e seu único problema é ser um pouco longo demais.

Mas a perspectiva de ver Leonardo DiCaprio e Tom Hanks numa comédia dirigida por Steven Spielberg será irresistível para o grande público, razão pela qual o filme tem tudo para ser sucesso de bilheteria no mundo inteiro.

O filme é baseado na autobiografia de Frank Abagnale, que relata uma juventude tão fantástica que é espantoso que Hollywood tenha levado 20 anos para transpor a história ao cinema.

Chocado com o divórcio de seus pais, Abagnale saiu de casa aos 16 anos e descobriu que possuía talentos impressionantes de sobrevivência e trapaça.

Ao longo de cinco anos espantosos, ele se fez passar por co-piloto da PanAm, cirurgião e advogado, enquanto se tornava mestre em preencher cheques sem fundos.

Prenda-me representa um intervalo de leveza entre os projetos mais sombrios e grandiosos que Spielberg anda empreendendo ultimamente. Mas é possível que também tenha alguma ressonância pessoal para o diretor.

Ao mesmo tempo em que Abagnale estava realizando suas proezas (a história é verídica), Spielberg estava vestindo terno e gravata para tentar se fazer passar por executivo do estúdio Universal. A trapaça rendeu frutos quando ele conseguiu um trabalho de direção na TV, aos 21 anos.

Depois de começar com uma cena em que o agente especial do FBI Carl Hanratty (Tom Hanks, com jeito de Jack Lemmon) leva Abagnale de volta da prisão em Marselha para os EUA, em 1969, a ação volta atrás seis anos, passando para Rochelle, Nova York, onde vive a família de Abagnale.

Frank, o pai (Christopher Walken), é um romântico sonhador cujo maior orgulho na vida foi ter trazido de volta da 2ª Guerra Mundial uma garota francesa (Nathalie Bayer) com quem se casou. Quando a infidelidade dela provoca o divórcio dos dois, o golpe é sentido também pelo filho, Frank Jr. (DiCaprio).

Numa cena que já antevê a habilidade de impostor do jovem Frank, o vemos chegando a um colégio novo e aproveitando a ausência de um professor para se fazer passar por professor substituto de francês, posição que consegue manter por uma semana.

Em seguida, sua habilidade incomum, aliada a várias circunstâncias propícias, o levam a ganhar um uniforme de piloto da PanAm e a forjar contracheques que lhe garantem uma renda generosa e a chance de viajar na cabine de aviões de outras companhias aéreas.

Sua beleza e seu jeito charmoso lhe possibilitam conseguir um grupo de fãs aeromoças, de modo que pode imitar o estilo de vida de James Bond, que admira explicitamente.

O FBI não demora a vir atrás de Abagnale, mas ele não será fácil de prender. Mesmo quando Hanratty o cerca num hotel de Hollywood, ele consegue virar o jogo, fugir e continuar pregando suas peças, desta vez em Atlanta.

Inspirado na confiança e ajuda de Brenda (Amy Adams), Abagnale “se transforma” em médico e chega a ser indicado para chefe do turno da noite de um hospital, o que significa que também pode selecionar as enfermeiras.

Ele não chega a fazer cirurgias, mas acaba gostando de Brenda a ponto de pedi-la em casamento e conhecer seus pais em Nova Orleans, onde o pai da moça (Martin Sheen) é promotor.

Cada vez mais ousado, Abagnale diz que não apenas é médico, mas também advogado. Para poder trabalhar para o pai de Brenda, ele faz o exame da ordem dos advogados da Louisiana depois de estudar por apenas duas semanas e, na proeza que vai deixar Hanratty mais atônito, anos mais tarde, é aprovado. Mesmo assim, acaba sendo descoberto pouco depois e admite: “Eu queria que tudo isso acabasse”.

Spielberg e o roteirista Jeff Nathanson (A Hora do Rush) deveriam ter entendido essa fala como deixa para começarem a concluir o filme, mas em vez disso ainda apresentam muito material posterior, gerando um efeito de “mais é menos”.

As informações sobre como Abagnale, sob a orientação de Hanratty, acaba virando especialista em fraude de cheques a serviço do FBI, são interessantes e irônicas, mas poderiam ter sido dadas em muito menos tempo.

Spielberg perdeu uma ótima oportunidade para fazer seu primeiro filme de menos de duas horas desde E.T..

Sair da versão mobile