Esta característica se faz presente apenas em parte de Estrada para Perdição, principalmente por conta de Tom Hanks, que pela primeira vez deixa de lado os papéis de mocinho e encarna o matador Michael Sullivan. A partir da metade da fita, no entanto, Estrada para Perdição desvia sutilmente para o drama lacrimoso – aquele típico de filmes protagonizados pelo mesmo Hanks.
Michael Sullivan é um gângster dos anos 30 que trabalha para o chefão da máfia norte-americana John Rooney (interpretação emocionante do veterano Paul Newman). Os dois mantêm um relacionamento paternal, já que Rooney criou Sullivan desde a infância, fato que desperta a inveja do filho verdadeiro do mafioso, Connor (Daniel Craig).
A relação acaba estremecida quando Michael, primogênito de Sullivan (papel de Tyler Hoechlin), presencia um crime cometido por Connor. Vingativo, o filho de Rooney mata a mulher e o filho mais novo de Sullivan, que precisa fugir com Michael para sobreviver e se vingar do assassino de sua família. Na estrada, pai e filho, que antes mantinham uma relação distante, acabam descobrindo suas afinidades.
Mesmo sem o ar anti-hollywoodiano que construiu o sucesso de Beleza Americana, Estrada para Perdição se destaca por outro viés: o belo, presente tanto na fotografia de Conrad L. Hall quanto na sincronia das atuações de Hanks e Newman. A cena em que Sullivan finalmente acerta as contas com Rooney é a tradução perfeita destas duas qualidades do longa. O tema centrado no relacionamento entre pais e filhos também agrada ao público e faz do filme um forte concorrente ao próximo Oscar – neste aspecto, Sam Mendes provavelmente não decepcionará.
Andréia Fernandes