O alto custo para as empresas brasileiras terem acesso aos capitais de financiamento poderá tornar o processo de aquisição das companhias nacionais pelas estrangeiras quase inexorável. A avaliação é do presidente do Grupo Votorantim, Antonio Ermírio de Moraes, que participou da abertura do 10º Seminário de Metais Não Ferrosos, em São Paulo, promovido pela Associação Brasileira de Metalurgia e Materiais.
“Se os empresários não abrirem os olhos, nossas empresas deixarão de ser nacionais”, afirmou. Perguntado se a citação considerava as recentes aquisições da Chocolates Garoto pela suíça Nestlé e a Kaiser pela Monson, o empresário respondeu: “É uma forma sutil de mostrar um processo quase inexorável”.
Na avaliação do executivo, o coquetel formado pela composição da alta carga tributária e as elevadas taxas de juros submetido às empresas nacionais impossibilita a manutenção do controle das companhias nas mãos dos empreendedores brasileiros.
“O problema é o custo do dinheiro, que é muito alto. Quando um empresário recebe uma proposta fantástica de fora, não há o que fazer. Nesse momento, ninguém pensa no País, em patriotismo. O melhor é vender a empresa e aproveitar a vida”, justificou.
Em sua palestra aos empresários do setor de metalurgia presentes ao evento, Antonio Ermírio defendeu a continuidade dos investimentos no setor elétrico, principalmente nos aproveitamentos hídricos. “O Brasil não pode crescer se não tiver energia. E nós temos a vantagem de termos 60% de nossas reservas hídricas serem renováveis. No mundo, 80% da geração de eletricidade depende de combustíveis fósseis. Temos que aproveitar essa vantagem”, sustentou.
Em suas projeções, o empresário estimou que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil deverá crescer 3% este ano. “O racionamento de energia gerou a fragmentação do consumo e isso demora para ser recuperado”, explicou. Além disso, ele argumentou a necessidade de melhor aproveitamento dos recursos hídricos para a agricultura. “Temos a impressionante marca de só irrigar 6% de nossa área agricultável”, apontou.
Para ele, a maior dificuldade enfrentada pelo País é o baixo grau de escolaridade da população e, concomitantemente, a ausência de investimentos em pesquisas tecnológicas. “As universidades deveriam se voltar para pesquisas”, observou.
Jander Ramon e Beth Moreira