Poucas empresas que fazem pagamentos acima de R$ 5 milhões embarcaram no novo Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB) em sua primeira semana de funcionamento. Os clientes corporativos do Bradesco, por exemplo, continuaram operando no antigo modelo de compensação bancária, preferindo emitir cheques e Documentos de Ordens de Crédito (DOCs) em vez das novas Transferências Eletrônicas Disponíveis (TEDs), segundo o vice-presidente do maior banco privado do Brasil, Julio de Araujo. Comportamento idêntico ao das pessoas jurídicas correntistas do Lloyds TSB, que não emitiu nenhuma TED entre empresas na semana passada. “Tivemos algumas solicitações de DOCs para pagamentos acima de R$ 5 milhões. Acho que a migração dos empresários para o novo SPB será mais lenta do que imaginávamos”, afirmou Eloy Forte Júnior, gerente de projetos do banco.
Os executivos concordaram que a maioria das companhias ainda não aderiu às TEDs porque os custos para honrar compromissos financeiros com cheques e DOCs não sofreram alteração, já que somente a partir do dia 7 de agosto o Banco Central (BC) exigirá que os bancos façam uma espécie de depósito sem remuneração sobre movimentações acima de R$ 5 mil feitas por meio desses mecanismos, incentivando-os a aumentar as taxas para inibir seus clientes a emitir cheques e DOCs acima desse valor.
Já o governo e as empresas públicas estão migrando mais rapidamente ao novo SPB, de acordo com o diretor de finanças do Banco do Brasil (BB), Aldo Luiz Mendes. “As privadas continuam fiéis aos DOCs e só devem substituí-los pelas TEDs quando o piso de R$ 5 milhões for reduzido.”
Ele conta que o BB movimentou mais TEDs nos dois primeiros dias de operação do novo sistema, em torno de 500 diárias entre enviadas e recebidas, do que no final da semana, em torno de 250 por dia. Mendes informou que o BB movimentou na semana passada, via TEDs, uma média de R$ 500 milhões por dia. Apenas 10% delas foram usadas para liquidar pagamentos entre clientes.
Dos 15 mil correntistas corporativos do BBV Banco, boa parte daqueles que fazem pagamentos acima de R$ 5 milhões, no entanto, estão substituindo os DOCs pelas TEDs, segundo o diretor adjunto de produto Valdir Manastella. Ele também conta que a emissão de TEDs não teve um aumento significativo ao longo da semana passada, que resultou em uma média de 380 por dia, o que inclui pagamentos entre clientes e para liquidar operações em bolsas.
No BankBoston a quantidade de TEDs também se manteve estável, movimentando em torno de 80, que giraram uma média de R$ 166 milhões por dia até quarta-feira, os últimos dados que a instituição tinha até a tarde de sexta-feira. A diretora de cash management do banco, Sandra Boteguim, disse que as TEDs entre clientes não chegaram a 10 por dia. “Mas temos muito a festejar com os resultados da última semana. As melhorias são cada vez mais significativas, o que torna nosso sistema financeiro o melhor do mundo”, afirmou.
Pouco a pouco, o SPB está adquirindo a confiança do mercado. Há uma semana foram registrados 5.086 lançamentos, representando a movimentação de R$ 52,414 bilhões, quando as operações do sistema foram encerradas às 23h. Na sexta-feira, os dados consolidados até às 18h30 indicavam a realização de 6.837 operações, somando um total de R$ 138,767 bilhões em operações. Na sexta-feira, 536 operações de redesconto intradia foram realizadas, no valor R$ 42,9 bilhões. Os dados acumulados até as 19h53 indicavam que faltavam ser concluídas 12 operações de redesconto, envolvendo R$ 1,8 bilhão. Mas ainda faltam alguns ajustes no sistema, considerando que é previsto o encerramento das operações às 18h30. Na sexta-feira, foi prorrogado até 21h30 o horário de fechamento do Sistema de Transferência de Reservas (STR), do Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e do redesconto. Nenhuma instituição entrou em contingência.