Os empresários presentes ao encontro defenderam a queda acentuada da taxa de juros e o reajuste de preços e salários com base na inflação futura, com reposições graduais de perdas passadas dos trabalhadores a longo prazo. São propostas emergenciais para lidar com a crise econômica, classificada por eles como uma das maiores do País.
– Muitos colegas acham que é a maior crise econômica do Brasil, mas eu, como sou mais velho, acredito que caminhamos para uma crise igual à de 1965 – disse o presidente da Gradiente, Eugênio Staub, em reunião setorial do conselho. Staub foi um dos primeiros empresários a apoiar abertamente a candidatura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
– Precisamos de um pacote, algo que possa movimentar o mercado imediatamente – disse o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Horácio Lafer Piva. “Todos com quem tenho conversado têm dito que essa é uma crise de grandes proporções, como poucas vezes se viu.”
Além de propor o reajuste de preços e salários com base em inflação futura, Staub disse que o Governo precisa reduzir em até um terço as taxas de juros, atingindo índices reais (descontada a inflação) de 8% ainda este ano e 5% no ano que vem. “A redução (da taxa Selic) da semana passada veio como um balde de água fria, não ajudou no astral de empresários e trabalhadores, que é muito baixo no momento.”
Corte em juros bancários e investimento em habitação
Staub também defendeu a redução dos juros cobrados pelos bancos e o investimento em habitação. Também opinou quanto ao câmbio: para ele, o dólar tem de variar entre R$ 3,30 e R$ 3,50 para não prejudicar as exportações. “Com uma agenda assim, poderemos mudar de 30 a 60 dias o astral da economia.”
As propostas foram feitas após a apresentação das diretrizes de curto prazo tidas pelo Governo como prioritárias na retomada do crescimento, como o estímulo da participação da iniciativa privada em investimentos de infra-estrutura. Staub, porém, advertiu que elas só teriam resultado num prazo de um ano e, portanto, seriam necessárias medidas de maior impacto. Ele lembrou que, em 1965, o Governo optou pela redução significativa do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).
Para o presidente da Fiesp, é preciso “mudar o desânimo de empregadores e trabalhadores”, causado pelos índices de desemprego, os pátios lotados das montadores e a estagnação do comércio. Ele defendeu a idéia de reajustes com base na inflação futura como uma das principais saídas. “O medo une as pessoas”, disse Piva.
Economistas e sindicalistas criticam reajuste
Reajustar os salários com base na inflação futura, como sugeriu o empresário Eugênio Staub, presidente da Gradiente, é uma idéia rejeitada por sindicalistas e criticada por economistas. “A introdução de propostas muito exóticas podem acabar tendo efeitos negativos na economia, como cansamos de ver nos anos 80 e na primeira metade dos anos 90 com os planos de estabilização”, afirma Fábio Silveira, economista.
O reajuste de salários sobre a inflação futura, diz, provocaria turbulência no planejamento econômico das empresas. “Essa não é uma boa idéia, assim como não funcionam tablitas ou outros mecanismos improvisados para controlar a economia. São medidas paliativas que não se sustentam. O que é preciso é fortalecer a competitividade das indústrias”, diz. Anselmo Luis dos Santos, economista da Unicamp, afirma que o reajuste de salários com base na inflação futura vai provocar perdas para o trabalhador e, portanto, não será aceita por sindicalistas.
Ao ouvir de empresários a proposta de reajuste com base na inflação futura, o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Luiz Marinho, rejeitou no mesmo instante a proposta. “Não nos peçam para esquecer a inflação passada porque ela já está nos preços. Só não chegou aos salários.”Para o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, José Lopez Feijóo, a proposta é absurda. “Está fora de cogitação, não faz o menor sentido.”