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Empresários brasileiros enfrentam a crise argentina

Os empresários brasileiros com negócios na Argentina dizem estar otimistas. A crise não poupou ninguém mas, em vez de ficar lamentando, preferem se adaptar à nova realidade. Praticamente não haverá novos investimentos para este ano. Contratos com fornecedores foram refeitos para baixar custos. Salários tiveram uma redução. E, claro, vale torcer para que 2002 passe rápido.

Desde 1994, o empresariado brasileiro investiu mais de US$ 8 bilhões na Argentina, segundo o Grupo Brasil. A entidade tem 190 associados, empresas que são responsáveis por 10 mil empregos – 67% são da área industrial. Por causa do mercado interno debilitado, “não se pode planejar nada”, afirma o presidente do grupo, Elói de Almeida. “A Argentina vem em recessão há 4 anos e os produtos das empresas brasileiras estão enfrentando dificuldade de aceitação.”

A sua empresa, a Pluma, de transporte de passageiros e cargas entre Brasil e Argentina, também sofre. Não há mais a invasão de argentinos em Santa Catarina. Desde dezembro, o fluxo caiu 70%. Pelo menos 40 empregados foram dispensados e a frota de ônibus e caminhões diminuiu. A saída é apostar no fluxo inverso. Nos guichês da empresa no Brasil, como em Foz do Iguaçu, Londrina e Porto Alegre, cartazes indicam que visitar o país vizinho voltou a ser atrativo.

Na área de cargas, o sonho de Almeida é ver a moeda argentina valendo um real, o que não está longe de acontecer – na sexta-feira, R$ 1 comprava 1,15 peso. “Aí prevalece a competência e necessidade de cada produto. E nossos caminhões teriam um fluxo de ida-e-volta”, explica.

Na Argentina, a Fras-le, do Grupo Randon, iniciou suas atividades há 12 anos comprando uma empresa pequena, de pastilhas e lonas de freio. Nos últimos quatro anos, o faturamento da unidade, que já chegou a US$ 11 milhões, vem caindo. Por enquanto, nada de fechar no prejuízo.

Investimentos, nem pensar. “O mercado de 2002 já baixou pelo menos 30%. Mas não acreditamos que vá piorar”, afirma o diretor Gelson Adami. “Neste momento, o importante é não perdermos a nossa participação no mercado”, afirma. Eles detém 30% da participação do setor no país, mas o temor com a redução no consumo é a concorrência de pequenas empresas, que oferecem produtos mais baratos.

“O nosso consumidor não está em condições de optar pelo melhor”, pondera. Para 2002, a esperança é fechar o ano com um faturamento superior a 10 milhões de pesos. Como precaução, a empresa já havia pesificado suas dívidas.

Nem o restaurante Cabaña Las Lilas, em Puerto Madero, que já foi visitado por políticos como Fernando Henrique Cardoso, Bill Clinton, François Mitterrand e Gerhard Schroeder, escapou ileso. Entre dezembro e janeiro, a queda no faturamento foi de 35%. Atualmente, a redução está em torno de 20%. “Comparado com Puerto Madero é muito bom”, afirma o empresário Belarmino Iglesias Filho, que no Brasil é dono do Rubayat.

Para trabalhar na nova situação, renegociou com seus fornecedores prazos menores nos pagamentos, de 90 para 15 dias, e com isso está conseguindo manter os preços. “Estamos sacrificando as margens e trabalhando sem lucro. A hora é de esperar passar a turbulência.” A atual aposta da churrascaria são os turistas. A sorte é ter um nome já conhecido em Buenos Aires, onde até os recepcionistas de hotéis de luxo indicam o restaurante.

Uma das primeiras ações para driblar a crise da Spettus Steak House, outra churrascaria brasileira, foi reduzir os gastos com mão-de-obra.

Os 41 funcionários foram dispensados para formar uma cooperativa. Agora repartem 20% do faturamento da churrascaria. Os custos foram reduzidos 18%, e mesmo se a crise for superada, o trato será mantido.

“Sem isso, já estaríamos fechando”, afirma Julião Konrad, de 54 anos, um ex-caminhoneiro gaúcho que tem hoje uma rede de 12 restaurantes em capitais do Nordeste, Brasília e Rio.

Custos com fornecedores foram reduzidos em até 30% no Spettus. O faturamento mensal está em 190 mil pesos, metade do que era quando um peso valia um dólar. Para acompanhar o negócio mais de perto, Konrad afirma que teve de “perder” uma filha, Miriam, que agora assume a administração do restaurante em Buenos Aires ao lado do marido, Valter Viezzer. “Apesar dos pesares, acho que a Argentina está mais próxima de encontrar as suas próprias soluções”, torce.

Eduardo Nunomura

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